sábado, 13 de abril de 2013



13 de abril de 2013 | N° 17401
NILSON SOUZA

Bruxa do bem

Dia desses voltei a jogar futebol. Era só uma brincadeira com parentes e amigos, mas para mim foi como disputar uma Copa do Mundo. Não que tenha tido grande atuação. Pelo contrário, meu time foi derrotado, não fiz sequer um gol e até pisei na bola uma ou duas vezes.

Mas saí de campo levitando de felicidade. É que meses atrás andei levando um nó cego do ciático e cheguei a pensar que jamais voltaria a correr. Pois corri por quase duas horas, saltei, chutei (ou tentei chutar, vá lá) e nada senti. E olha que já tenho idade para andar de ônibus sem pagar passagem.

Devo essa a uma mulher de discurso enigmático e mãos verdadeiramente mágicas, que tive a bênção de conhecer durante minha excursão involuntária pelas profundezas da dor. Na primeira consulta, ela dissertou sobre cadeias musculares, comunicação corporal, fluxos de energia e uma profusão de termos da medicina oriental que me soaram como esotéricos. Um tanto ranzinza pelos dias de sofrimento, fui logo dizendo:

– Para falar bem a verdade, não acredito em quase nada do que estás me dizendo.

Com suave firmeza, ela rebateu a minha insolência:

– Pouco me importa se não acreditas. O que importa é que eu acredito.

E partiu para a prática. Em poucas semanas, usando apenas as mãos (e os cotovelos, às vezes), destravou músculos que eu sequer sabia existir e que estavam transformados em pedra pela rigidez do sofrimento e por anos de má postura. Sem usar remédios nem aparelhos, apenas com os exercícios orientados pela fisioterapeuta, recuperei os movimentos da vida.

Depois, aprendi mais sobre ela. Descobri que tem um séquito de fiéis, que a idolatram como uma divindade. Todos tiveram músculos e articulações regenerados por suas mãos – e o espírito pacificado por suas reflexões filosóficas sobre o ser humano, manifestadas entre um movimento e outro em concorridas sessões de ginástica coletiva.

– Essa mulher é uma bruxa! – comentou outro dia uma amiga comum, que também já passou pelo seu toque restaurador. Foi esse comentário que me inspirou a transformar o episódio numa crônica. A bruxa, no melhor sentido que o termo historicamente pejorativo possa ter, existe mesmo.

Chama-se Margareth Leyser e, além de consertar esqueletos desconjuntados, também entende muito de dança contemporânea. É, na verdade, uma profissional estudiosa e competente, que sabe muito de seu ofício e possui o dom de curar.

Continuo não acreditando. Mas ela acredita – e isso é o que realmente importa.

Nenhum comentário: