13
de abril de 2013 | N° 17401
ARTIGOS
- Germano Rigotto*
Dívida: a unidade como
estratégia
A difícil
situação financeira do Rio Grande do Sul passa por questões federativas e pela
busca de entendimento em pautas que dependem unicamente de nós – como é o caso
da previdência estadual. Não se pode esconder essas constatações nem pela mais
legítima tentativa de pessoalizar ou de politizar o debate a respeito do tema.
Tudo o que não precisamos – ontem, hoje ou amanhã – é de diagnósticos irreais,
falsos pessimismos ou intermináveis disputas e dissensos.
O
comprometimento da receita com o pagamento da dívida com a União é um dos mais
graves complicadores das contas públicas gaúchas. E essa – ao menos essa! – é
uma causa que precisa nos unir. Isso passa por compreender que o acordo firmado
na década de 90 foi adequado para as condições macroeconômicas de então. De lá
pra cá, entretanto, o cenário mudou – a começar pela utilização do indexador de
correção.
Os
patamares em vigor não são mais usados sequer para financiamentos privados. O
Estado devia R$ 11 bi em 1997, não fez novas dívidas, pagou R$ 18,7 bi, e ainda
assim deve R$ 40 bi. O quadro foi agravado pela mudança, nas últimas décadas,
de outras duas dinâmicas substanciais: o juro subiu – e fez crescer o saldo
devedor –, a inflação caiu – e fez diminuir a arrecadação. O desequilíbrio fica
evidente.
Também
é necessário reavaliar o índice de comprometimento da receita para pagamento da
dívida e a unificação das 27 legislações de ICMS, mudando gradativamente a
cobrança da origem para o destino e limitando a guerra fiscal. A Lei Kandir,
meritória nas intenções, onerou excessivamente Estados com vocação exportadora,
como o Rio Grande do Sul. A compensação paga pela União está longe de ser
equânime.
Portanto,
não podemos cair no defasado costume de simplificar um problema de múltiplas e
complexas facetas. Há dados objetivos da realidade que não estiveram vinculados
à vontade deste ou daquele partido ou governante. Nada disso exime o Rio Grande
do Sul de suas próprias responsabilidades, mas mostra que a situação nas nossas
finanças, em grande parte, foi agravada por implicações externas.
O
debate político sobre isso é oportuno, inclusive no exercício da crítica que
interessar a cada parte. Não fujo a esse diálogo. Todavia, se pautarmos a
discussão na arena da velha rivalidade que tantas vezes já nos atrapalhou, é
provável que tenhamos ainda mais dificuldade de encontrar soluções plausíveis –
seja no curto, no médio ou no longo prazo.
Nosso
Estado é bem mais do que as disputas que tantas vezes tomam conta do nosso
cotidiano. Precisamos somar forças naquilo que pode nos unir. E a luta pela
mudança nos patamares da cobrança da dívida federal é um exemplo concreto
disso. A construção da unidade em torno de agendas mínimas não é retórica,
senão que a única estratégia de governabilidade financeira para o Rio Grande do
Sul.
*EX-GOVERNADOR
DO RIO GRANDE DO SUL E PRESIDENTE DO INSTITUTO REFORMAR
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