08
de abril de 2013 | N° 17396
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araújo
Combinar com os russos
Diante
dos dramáticos episódios dos últimos seis meses na Venezuela, a eleição do próximo
domingo teria tudo para parecer um episódio menor. Em outubro do ano passado,
os venezuelanos foram às urnas para escolher entre o candidato à reeleição,
Hugo Chávez, e o representante da oposição enfim unida, Henrique Capriles,
dando 55% dos votos ao primeiro e 44% ao segundo. Em novembro, o chavismo
venceu as eleições de governadores em 20 dos 23 Estados.
De
dezembro a março, o presidente agonizou de forma lenta e rocambolesca, antes de
sua morte levar o país a uma das maiores comoções públicas de sua história. Seria
improvável que o pleito do próximo domingo rivalizasse com essa sequência de
acontecimentos em matéria de dramaticidade.
Tudo
indica, porém, que a Venezuela está prestes a inaugurar um novo capítulo de sua
história a partir do momento em que as urnas forem abertas. E esse capítulo
promete ser tão ou mais eletrizante que os precedentes.
Desta
vez, a campanha eleitoral foi curta. Do lado chavista, a batalha pelo poder
começou de fato no dia 10 de dezembro, quando Chávez, momentos antes de
embarcar para sua última cirurgia em Havana, apareceu na TV ao lado de seu
chanceler, Nicolás Maduro, e disse que, caso morresse, o discípulo deveria
receber os votos de seus seguidores. A imagem do presidente morto foi explorada
à exaustão por Maduro, e não se esperava que o governo fizesse outra coisa.
A
grande surpresa, no entanto, é a disposição dos oposicionistas para o embate. Afastado
do governo de seu Estado, Miranda, para concorrer, Capriles beneficiou-se de um
sentimento corrente entre os líderes antichavistas: Maduro, diferentemente de
Chávez, é derrotável. Uma parte dessa confiança vem da confusão detectada nas
fileiras inimigas durante a doença do chefe. Outra, da percepção de que o
desaparecimento de Chávez expôs as fraturas do governismo.
Mas
o que tem movido multidões como a de ontem na Avenida Bolívar é o sufoco econômico.
A Venezuela não é o paraíso da propaganda oficial: há inflação,
desabastecimento e corrupção. O sonho da oposição é que o descontentamento leve
milhões de descontentes às urnas no domingo. Uma vitória de Maduro por pequena
margem de votos poderia ser bombardeada com suspeitas de fraude. O passo
seguinte seria convocar as massas às ruas. Falta combinar com os russos.
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