terça-feira, 2 de abril de 2013



02 de abril de 2013 | N° 17390
PAULO SANT’ANA

Justa aposentadoria

A meu ver e sentir, a renúncia do papa Bento XVI pôs fim a um dos maiores bestialógicos que a Igreja Católica impôs a si própria, aos católicos e ao mundo. Qual seja, decretar que devia permanecer no trono papal o pontífice que estivesse doente, senecto, decrépito, fisicamente decadente e amorfo.

Bento XVI, ao renunciar, jogou no lixo esse dogma absurdo, inovando ao consagrar que daqui por diante é lícito a qualquer papa se aposentar.

Vou mais adiante: passou a ser lícito agora à Cúria Romana encaminhar ao colégio dos cardeais a proposta, para que ele a aprecie por maioria, de aposentar o papa, mesmo que este resista a essa hipótese, quando não tiver mais condições físicas ou mentais para continuar exercendo o pontificado.

Não sou vaticanista, mas quantos e quantos papas já existiram que mereciam se aposentar e foram ainda assim submetidos a um calvário para si ou para os outros ao permanecerem no trono sem as mínimas condições de liderá-lo.

Com o papa deve acontecer o que ocorre em todas as carreiras: o fim delas tem de ser a aposentadoria. Apenas com uma diferença: a de que todos os papas eleitos já pertencem à velhice, por isso deve-se respeitar a índole de que ele exerça o cargo como ancião, desde que apresente as mínimas exigências ao desempenho de máximo pastor.

Os papas – viu-se isso no antepenúltimo e no penúltimo, João Paulo II e Bento XVI – não poderiam de maneira nenhuma, diante das obrigações cênicas a que eram submetidos, missas, aparições diante de multidões e outras solenidades, ser transportados no papamóvel doentes e alquebrados. O papamóvel, com eles dentro, mais parecia um carro semifúnebre.

Em outras palavras, jamais os fiéis podem sentir pena do papa.

Ao contrário, o papa tem de se mostrar física e mentalmente participativo em todas as suas atuações e movimentos.

E não é justo obrigar-se qualquer papa à tortura existencial de continuar no cargo se está cansado dele.

Por isso compreendo, aprovo e aplaudo a aposentadoria de Bento XVI.

E essa aposentadoria do papa anterior pôs fim também a um desígnio injustificável da Igreja: o de que o mandato de um papa só terminasse quando ele morresse, isso se constituiu num monumental contrassenso e num suplício constrangedor para inúmeros papas que foram obrigados a arrastar-se no cargo, implorando talvez até eles mesmos pela própria morte.

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