02
de abril de 2013 | N° 17390
DAVID
COIMBRA
A confiança dos
grandes
Julio
Cesar foi tão grande que metade de seu nome tornou-se um mês, julho, e a outra
metade tornou-se sinônimo de rei: kaiser na Alemanha, czar na Rússia, césar
entre os romanos.
O
curioso é que ele próprio, Julio Cesar, jamais foi rei. Cesar, que ironia,
nunca foi césar. Quando Jesus falou “dai a césar o que é de césar”, não falava
de Julio. O nome Cesar, àquela altura, já havia se transformado em cargo. O
“césar”, por volta do ano 33 DC, era Tibério, que sucedera Augusto, este, sim,
o primeiro césar, que também virou mês, agosto, mas essa é outra história. O que
importa agora é Julio Cesar.
A
vida de Julio Cesar foi uma fieira de lances bem-sucedidos, entre geniais e
fortuitos, ou as duas coisas. Tratava-se de um homem inteligente, ousado e
afortunado, e tinha consciência disso.
Uma
vez, Cesar precisava atravessar um trecho do Mar Adriático no inverno, e
precisava fazê-lo não em um grande navio, mas em um pequeno bote. O mar estava
proceloso, nenhum marinheiro se arriscaria a enfrentá-lo naquelas condições.
Mas Cesar teimou que iria em frente. Requisitou alguns homens e fez-se ao mar.
Em meio ao trajeto, as ondas gigantescas jogavam com o barquinho para cima e
para baixo, os remadores estavam apavorados, os olhos redondos de espanto e
pavor, e aí Cesar sorriu para eles, e disse:
–
Não se preocupem: vocês estão conduzindo Cesar e sua boa sorte.
Veja
como Julio Cesar confiava na sua estrela. Como pensava positivamente. Isso é
muito bom, faz com que uma pessoa vá em frente, não tema a vida e, graças a tal
destemor, realize seus sonhos. Pena que esse sentimento nem sempre corresponda
à realidade.
No
caso de Cesar, as ondas jogaram-no de novo para a praia e lhe espatifaram o
bote. Ele não atravessou o Adriático. No caso dos times de futebol, a confiança
exagerada causa um relaxamento que acarreta fracassos como alguns que vêm
abalroando o Grêmio no Gauchão. Está faltando concentração ao Grêmio, está
faltando cuidado. Melhor ter confiança desconfiando, entrar em campo, senão
temendo, respeitando o adversário.
Cesar
não aprendeu com o episódio do Mar Adriático. Continuou vivendo com um sorriso
de vitória acima do queixo eternamente erguido. Resultado: na manhã de 15 de
março de 44 AC, sua mulher advertiu-o de que tivera um pesadelo nefasto com ele
e pediu que não fosse ao Senado, local onde referviam seus inimigos. Cesar
sorriu com desdém e foi em frente. Tomou a liteira na qual um dos senadores
traidores o aguardava.
Pouco
tempo depois, já na entrada do Senado, um homem se aproximou dele e lhe passou
um bilhete que denunciava a conspiração para assassiná-lo. Cesar não leu.
Guardou o bilhete numa dobra da toga, displicentemente. E foi em frente. No
Senado, homens que o odiavam, que antes já tinham tramado contra ele, mas que
ele, com sua imprudente confiança, havia perdoado, esses homens o apunhalaram
até a morte.
A
sorte não funciona sempre. Ela precisa de alguma ajuda. O saudável sentimento
do medo às vezes bem pode ajudar.
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