02
de abril de 2013 | N° 17390
CLÁUDIO MORENO
Leitores
1 –
O escritor britânico C. S. Lewis, mais conhecido no Brasil por suas Crônicas de
Nárnia, deixou registrada sua crítica àqueles que leem um livro apenas uma vez.
Segundo ele, sempre haverá uma esperança para quem nunca leu Shakespeare,
Tolstói ou Montaigne, porque um dia poderá vir a lê-los. Agora, não há nada a
fazer com alguém que diz “já li Cervantes” com aquele ar de quem, por ter lido
uma vez o Dom Quixote, considera o assunto esgotado.
2 -
Sir James G. Frazer, o famoso antropólogo, não desdenhava os autores de sua
época (morreu em 1941), mas tinha especial predileção por obras clássicas, como
a Ilíada ou a Bíblia. Segundo ele, o princípio darwinista de que só os melhores
sobrevivem vale mais para a literatura do que para os homens. Livro ruim morre
logo, mas os bons permanecem porque o mundo faz questão de não deixá-los
morrer.
Quanto
mais antiga uma obra, mais forte é o tributo que a humanidade presta à sua
excelência; se os homens se deram o trabalho de reproduzir um livro vezes sem
conta e passá-lo de geração em geração, podem ter certeza de que há alguma
coisa nesse livro que merece viver.
Por
onde andam nomes como Somerset Maughan, A. J. Cronin, Pearl S. Buck, estrelas
dos anos 60? Por onde andarão, daqui a trinta anos, nomes que hoje são
resenhados e premiados como carneiros de exposição? Não creio que cheguem aos
meus netos – enquanto, sereno e incomparável, Machado de Assis vai ficando
melhor a cada ano que passa.
3 –
As crianças sabem. Isaac B. Singer, um dos autores favoritos de nosso saudoso
Moacyr Scliar, no discurso que fez no banquete oferecido a ele logo após ter
recebido o Prêmio Nobel de Literatura de 1978, deixou sábias advertências para
quem escreve livros infantis; delas, destaco algumas que, por sua atualidade,
nunca deveriam ser esquecidas:
(1)
crianças leem livros, não resenhas; não dão a mínima para a crítica;
(2)
crianças não leem para encontrar sua identidade, para se libertar de culpas,
para apaziguar sua sede de revolta ou para se livrar da alienação;
(3)
elas ainda acreditam em Deus, na família, em anjos e demônios, em bruxa e
gnomos, e também na lógica, na clareza, na pontuação e em todas essas coisas
que parecem obsoletas;
(4)
elas adoram histórias interessantes, mas detestam comentários e notas de pé de
página;
(5)
quando o livro é maçante, abrem um amplo e espontâneo bocejo, sem vergonha
alguma e sem a menor consideração pelo renome do autor;
(6)
por último, e talvez mais importante, não esperam que seu escritor favorito vá
salvar a humanidade; tão jovens que são, sabem que isso está acima das forças
dele e que só os adultos têm essas ilusões infantis.
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