segunda-feira, 1 de abril de 2013



01 de abril de 2013 | N° 17389
ARTIGOS - Paulo Brossard*

Desastre monumental

No mês de março, recém findo, foram lembrados os 10 anos decorridos da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Como o leitor está lembrado, circulava a versão segundo a qual Saddam Hussein armazenava armas de destruição em massa e essa seria a causa a justificar a invasão projetada e afinal consumada.

Ocorre que, lembro-me bem, a alegada existência desse armamento estava sendo investigada por comissão da ONU e pouco lhe faltava para a conclusão do seu trabalho, quando a comissão pleiteou a prorrogação do tempo necessário, para encerrá-lo, coisa de cinco, 10 ou 15 dias.

Contudo, o governo americano se opôs ao pedido, e assim o laudo deixou de ser encerrado com a declaração acerca da existência ou inexistência das faladas armas de destruição em massa; se não estou em erro, era o que queria o governo Bush, para começar a guerra que realmente foi iniciada no fim de março de 2003 para findar obrigatoriamente no dia 1º de maio do mesmo ano: a vitória era anunciada previamente, coisa que não se vira até então!

Ora, não sou especialista nem em assuntos da Panela do Candal e muito menos em questões bélicas que venham a ter a Ásia como teatro, mas, na ocasião em que a mais poderosa nação do mundo previa que a guerra estaria finda a 1º de maio, e disse para mim mesmo que naquele dia, ainda que com armas diferentes, a guerra teria início: dito e feito.

Basta dizer que o atual presidente dos Estados Unidos, que, quando candidato, se comprometeu a retirar os soldados americanos do país invadido, só agora, em dezembro passado, pôde cumprir sua promessa. É fácil iniciar uma guerra, mas não é fácil sair dela, em dia certo e carregando as glórias do triunfo.

O fato capital do episódio é que, nunca foram descobertas as supostas armas químicas e biológicas de destruição em massa, denunciadas pelo presidente Bush perante a Assembleia das Nações Unidas; nunca foram encontradas ou sequer vistas. O fato é de tal relevo que dispensa adjetivação. Ele fala por si.

Poderia ficar aqui e teria dito o essencial. Mas, apenas a título ilustrativo, direi que as perdas humanas que seriam mínimas, dada a rapidez da guerra em razão da superioridade bélica dos Estados Unidos, em verdade, importaram na morte de 190 mil pessoas e as despesas previstas em US$ 40 e US$ 60 bilhões ultrapassaram a casa dos US$ 2 trilhões! O país, por sua vez, depois de 10 anos da invasão, continuou a viver dias de extrema violência.

É difícil compreender como uma nação, que tenha atingido o desenvolvimento como a americana, aspectos que eram intuitivos e de previsão fossem ignorados; dir-se-á que o brutal atentado às torres gêmeas de Nova York era fato recente e provocara lesão imensa na alma da nação, o que é real. Mas a brincadeira da guerra era demais. Isto me faz lembrar a sentença do velho Adenauer, que do alto seus 80 anos reflexionava: uma coisa ainda compreendi, por que Deus, que limitou a inteligência do homem, deixou a burrice sem limite.

Dê-se ao fato o nome que se quiser, o desastre foi monumental e de muitos efeitos, entre outros, o de acordar ou excitar um mundo vincado por centenários se não milenários sentimentos, inclusive de ordem religiosa, bem diferentes dos do mundo ocidental. O fenômeno não se circunscreve ao Iraque, mas parece ter se expandido ao enorme e complexo mundo árabe, embora com raízes comuns.

*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF

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