24 de maio de 2016 | N° 18533
CARPINEJAR
Aniversário da amizade
Comemoramos aniversários de namoro e de casamento e jamais lembramos os marcos das amizades.
A amizade repousa num tempo indefinido e vago, sem festa, sem torta e sem parabéns. É uma omissão injusta. Favorecemos as amarras do romance e descuramos dos laços da fraternidade.
Ninguém festeja a data do primeiro encontro com um amigo muito especial. Eu percebi a lacuna quando Eduardo Nasi, meu comparsa gaúcho radicado em São Paulo, lembrou-me de que em 15 de agosto completávamos 20 anos de amizade. Eu ri e logo suspirei:
– Já foram duas décadas, hein? Meu Deus, como passou rápido!
– Pois é, a gente se conheceu porque gostávamos de poesia e nunca deixamos de nos falar mesmo quando morávamos em cidades diferentes – ele respondeu.
Combinamos de jantar neste dia para vibrar com as bodas de porcelana da amizade. Um encontro bem bagual: beber até passar mal, quem cair pagará a conta. Um preço justo para a cara partilha de confidências, pois atravessamos lado a lado as crises dos 20, dos 30 e dos 40.
Amigo é algo tão sério, que deveríamos pedir o ombro do sujeito para os seus pais. Se pedimos a mão da mulher em casamento, o ideal é solicitar o encosto leal e fiel de nosso amigo com a mesma solenidade e tensão, olhando nos olhos dos progenitores e prometendo sinceridade e cuidado pela vida afora. Afinal, o ombro dele será nossa fortaleza nas tristezas e nas separações, nos tropeços e nas fraquezas, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
Ele não é uma casualidade ou um golpe de sorte ou um resultado das circunstâncias. Amigo é destino, amigo é vocação, amigo é amor de anjo, amigo é inocência de intenção. Longe de um amigo, não há casamento que resista e profissão que se sustente.
Ele não é uma casualidade ou um golpe de sorte ou um resultado das circunstâncias. Amigo é destino, amigo é vocação, amigo é amor de anjo, amigo é inocência de intenção. Longe de um amigo, não há casamento que resista e profissão que se sustente.
Antes de ver quem é a mãe do outro, somos apenas conhecidos. Temos que frequentar a casa e a família, percorrer enterros e nascimentos, suportar a intimidade das contradições e oferecer conselhos com uma visão privilegiada de conjunto, antevendo de onde veio e quais são os seus problemas e lapsos de infância.
Pelo jeito, eu e Eduardo chegaremos às bodas de ouro. Faltam ainda 30 anos, mas não tivemos nenhuma discussão de relacionamento ao longo de nossa cumplicidade.
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