quarta-feira, 4 de maio de 2016



04 de maio de 2016 | N° 18516
CRISE EM BRASÍLIA

Janot denuncia Lula ao Supremo

PROCURADOR-GERAL TAMBÉM PEDIU AUTORIZAÇÃO para investigar ex-presidente e mais 30 pessoas em outro inquérito

Duas decisões do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atingiram ontem Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma delas, o ex-presidente foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que investiga se houve uma trama para comprar o silêncio e evitar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, revelada pelo senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).

Horas antes, Lula já havia sido incluído em uma lista de 31 nomes enviada ao STF para que fosse autorizada investigação na Operação Lava-Jato – nesse caso, o processo apura se uma organização criminosa, formada por políticos, empresários e funcionários, atuou contra a Petrobras.

Segundo Janot, a ação com Cerveró envolveu o pecuarista José Carlos Bumlai e seu filho Maurício Bumlai. “Se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida”. Conforme a procuradoria, há “diversos outros elementos” comprovando a participação de Lula na empreitada, além da colaboração de Delcídio.

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, analisará a denúncia e o pedido de investigação. Será elaborado um voto e apresentado à Segunda Turma do tribunal, composto por cinco integrantes. Se o colegiado aceitar a denúncia, Lula e os outros investigados serão transformados em réus. Não há data prevista para essa análise acontecer.

PARA PROCURADOR, ORGANIZAÇÃO SÓ PODERIA ATUAR CASO LULA PARTICIPASSE


Ao justificar a inclusão de mais nomes no chamado inquérito-mãe da Lava-Jato, Janot afirmou que uma organização criminosa como a que atuou na Petrobras “jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dela participasse”.

No documento enviado ao STF, a procuradoria narra que o aprofundamento das investigações mostrou que a suposta organização criminosa tem dois eixos centrais: o primeiro ligado a membros do PT e o segundo ao PMDB. Janot aponta ainda que, mesmo longe do governo, Lula influenciava o Planalto e agia para tumultuar as investigações da Lava-Jato, indícios que teriam surgido a partir das gravações telefônicas autorizadas pela Justiça.

“Os diálogos interceptados com autorização judicial não deixam dúvidas de que, embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne às articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava-Jato”, diz. De acordo com a PGR, delatores e provas reforçam os elementos contra Lula, sendo que alguns deles apontam que o esquema começou no início do governo do ex-presidente, em 2003.

Chamado de inquérito-mãe, o processo já abrange 39 pessoas, principalmente nomes do PMDB do Senado, como o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Romero Jucá (PMDB- RR), além de deputados e senadores do PP. Janot justifica a inclusão de novos investigados face “o avanço das investigações”. O procurador pede ainda que as investigações sejam estendidas por mais 150 dias.

Todos os citados pela procuradoria negam envolvimento em irregularidades ou crimes.

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