segunda-feira, 16 de maio de 2016


16 de maio de 2016 | N° 18526 
L. F. VERISSIMO

“Que governo!”


A cineasta Anna Muylaert ganhou um dos prêmios Faz Diferença do jornal O Globo neste ano. Seu filme Que Horas Ela Volta? mereceu outros prêmios além do troféu do Globo e revelou uma jovem atriz, Camila Márdila, que conseguiu a façanha de se destacar atuando ao lado da Regina Casé, a melhor atriz brasileira. 

No filme, Camila é Jéssica, a filha da empregada que consegue realizar seu sonho de estudar arquitetura graças a um dos programas de acesso à educação superior do governo federal. Ao agradecer o prêmio do Globo, a diretora contou que na feitura do filme tinha conhecido muitas “Jéssicas” beneficiadas pelo mesmo programa do governo, e fez questão de dar o nome dos “pais” delas: Lula e Dilma Rousseff.

A presidente em recesso teve muitas razões para se orgulhar ouvindo os senadores que pediam seu impeachment enumerar os programas sociais que seriam mantidos porque, nas palavras do Temer, tinham dado certo. Só faltou um senador golpista ler toda a lista dos programas sociais mantidos pela administração do PT, esquecer-se de onde estava e gritar, entusiasmado: “Que governo!!”.

Mas o Temer foi generoso. Nem todos os programas sociais do governo sendo banido deram certo. Alguns foram muito caros. Para poder continuá-los, Temer terá que enfrentar o que é, afinal, a questão do momento: até onde neoliberalismo e prioridade social podem conviver sem que um lado sacrifique seus princípios rígidos e o outo lado apele para a contabilidade, digamos, criativa, mas humanitária? A questão não é crucial só aqui, é a questão do mundo.

Nos seus primeiros pronunciamentos, o Temer já sinalizou uma preferência clara pelo neoliberalismo de bom coração. Ou seja, fica o Bolsa Família, mas a Petrobras talvez tenha que ir.

Uma garantia do Temer é que a Lava-Jato também continua. Por via das dúvidas, três ou quatro do seu ministério ganharam foro privilegiado.

Enfim, um dia ainda vamos rir de tudo isto – histericamente.

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