24 de maio de 2016 | N° 18533
DAVID COIMBRA
O fim de Dilma, o fim de Temer, o fim do Grêmio, o fim de tudo
Ogoverno Dilma acabou quando ganhou a reeleição, e o governo Temer acabou quando nomeou Jucá para o ministério. Ou seja: acabou antes de começar. Não é natimorto, porque nem nascer, nasceu.
O PT já acabou faz tempo e o PMDB nunca existiu. O PMDB jamais foi um partido, é uma frente disforme, uma geleca, sem direção, sem ideias e, principalmente, sem escrúpulos.
A música brasileira acabou, embora a Cláudia Laitano ache que não. O que existe de bom não amarra a botina esquerda de um Paulinho da Viola, de um Belchior, de um Caetano, de um Noel, de um Chico.
Aliás, o Chico, de quem tanto gosto, parece acabado. Não porque cometeu o desatino de apoiar um desgoverno, mas porque mandou um CD autografado para Maduro, o exótico presidente da Venezuela que conversa com seu antecessor morto, Chávez. Maduro diz que consegue tal façanha porque Chávez reencarnou num passarinho.
É sério isso: o presidente da Venezuela conversa com passarinhos e aconselha-se com eles. Donde, a Venezuela acabou.
A Argentina, da mesma forma, acabou. Macri fez do Boca campeão do mundo, mas não terá como fazer algo pela Argentina. Imagine: 50% da população da Argentina ganha algum tipo de subsídio do governo. Lá é como no Brasil: ninguém quer perder nada, ninguém cederá nada em nome de coisa alguma. Logo, o governo Macri será inviabilizado. A Argentina acabou.
E o Brasil também, pelos mesmos motivos. Também no Brasil ninguém cede, ninguém aceita ficar sem seus privilégios, todos têm suas razões, suas desculpas e seus direitos, todos se julgam injustiçados, todos estão revoltados contra os outros todos.
Talvez a maior prova de que o Brasil acabou seja, exatamente, o fim do que o Brasil tinha de melhor: a música e o futebol.
Porque, sim, como a música, o futebol brasileiro acabou. Mas nada, no futebol brasileiro, acabou mais do que o Grêmio.
Assisti ao jogo do Grêmio contra o Flamengo. Foi uma vitória assustadora. Um amigo meu, que estava na Arena, definiu a experiência desta maneira:
“Meia dúzia de gatos pingados, amortecidos pela pachorra do domingo, em dúvida se não era melhor ter ficado na Globo, mesmo com a chata da mulher incomodando. Nenhuma luz, nenhuma luz. O horror, o horror”.
Compreensível. Roger montou um time sem meio-campo. Teria de fechá-lo, tirar o centroavante inoperante e colocar um Ramiro, um Pedro Rocha, até um Edinho. Assim como está é que não pode jogar.
Só que jogará. Está visto que jogará. Roger tem a teimosia dos técnicos e não tem o apoio de uma direção experiente. Agora, a direção fechou a contratação do zagueiro Wallace, do Flamengo.
Vou reproduzir uma história que ontem me contou um amigo carioca sobre esse zagueiro. O filho do meu amigo se chama Rodrigo Rangel, tem 15 anos e é flamenguista com toda a devoção que pode ter um garoto de 15 anos por um clube de futebol.
Palavras do meu amigo:
“O Rodrigo achou que o cara ia jogar neste domingo pelo Grêmio. Fez a gente sair da praia do Arpoador, que estava paradisíaca, e me obrigou a pegar um táxi para andar cinco quadras. No táxi, ele botou a camisa do Fla. O taxista sintonizou o rádio no jogo e tinha mesmo um Wallace em campo. Teve até comemoração no carro. Depois, a decepção”.
Wallace está sem muito prestígio com a torcida do Flamengo, como se vê. Em compensação, é jogador lido. Fiquei sabendo que ele ia fazer um blog com resenhas de cem livros que leu. Deve ser por isso que o Grêmio vai gastar R$ 3,2 milhões na sua contratação. Pela cultura.
Ou por ele ser bom marido. Wallace se orgulha de só ter beijado uma mulher na vida: a própria esposa. Bonito.
São esses os bonitos critérios de contratação do Grêmio. O Grêmio acabou. O futebol brasileiro acabou. A política brasileira acabou. Tudo acabou.
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