sábado, 14 de maio de 2016



14 de maio de 2016 | N° 18525 
L.F. VERISSIMO

Trilhão


“Trilhão” era uma palavra pouco usada, antigamente. Uma pessoa podia nascer e morrer sem jamais ouvir, que dirá pronunciar, a palavra “trilhão”, a não ser em vagas especulações sobre as estrelas do Universo. Um trilhão ficava um pouco antes do infinito. Dizia-se “trilhão” em vez de se dizer “incalculável” ou “sei lá”.

Não era um número, era uma generalização. Se um dia você, por distração, dissesse “trilhão”, a palavra subiria como um balão desamarrado, não daria tempo nem para ver a sua cor. E hoje não passa um dia sem que se ouça falar em “trilhões”. O “trilhão” vai, aos poucos, tornando-se nosso íntimo. É o mais novo personagem do nosso cotidiano, e das manchetes dos nossos jornais.

Quantos zeros tem um “trilhão? Doze, acertei? Se os zeros fossem pneus, o “trilhão” seria uma jamanta daquelas de carregar turbina para usina atômica. Felizmente, deve vir aí uma nova moeda com menos zeros e mais respeito para acomodar a corrupção nacional. Senão, chegaríamos à desmoralização completa.

– Tem troco pra um bi?

– Serve uma bala?

Desconfio que o que apressará a reforma será a iminência do “quatrilhão”. Como palavra, “quatrilhão” é até mais feia do que “seborreia”. Depois de dizer “quatrilhão”, você deve pular para trás, senão ela cai e esmaga o seu pé.

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