sexta-feira, 27 de maio de 2016


27 de maio de 2016 | N° 18536 
NÍLSON SOUZA

O LOBISOMEM DE SÃO SEPÉ


Uma das minhas frustrações é nunca ter visto nada de sobrenatural ou extraterrestre. Tenho um companheiro de trabalho, lúcido, sério e recatado, que garante ter visto um disco voador. Conheço uma jovem que afirma ter flutuado acima do próprio corpo – fenômeno que a ciência explica como catalepsia projetiva, uma ação cerebral que se dá entre o sono e o estado de vigília. Nunca saí da cama antes do meu corpo. Nem jamais vi alma de outro mundo, lobisomem ou mesmo o fantasma da ópera.

E admito que não sou dos mais corajosos: uma vez estava sozinho no cemitério num final de tarde, olhando para um desses monumentos de arte tumular, quando tocou a sirene de encerramento das visitas. Foi o mais perto que me ocorreu de sair do próprio corpo, pois as pernas ficaram paralisadas e o coração disparou. Mas passou logo.

Mesmo sendo cético de carteirinha, gosto de histórias de assombração e de realismo fantástico. Outro dia reli os Doze Contos Peregrinos, de García Márquez, e voltei a me encantar com a história do castelo de Ludovico, que coincidentemente se chama Assombrações de Agosto. Logo o meu mês de nascimento, sobre o qual já escrevi vários desagravos, contrariado com o rótulo de mau agouro que lhe atribuem alguns nativos de outras partes do calendário. Pois a crônica da passagem do escritor colombiano pela fortaleza italiana tem um desfecho arrepiante, que me reservo o direito de não contar aqui.

O que conto, depois desse preâmbulo todo, é a minha dificuldade para atender o pedido de uma colega de ofício que trabalha para a TV japonesa. Ela me escreveu solicitando informações sobre o lobisomem de São Sepé, que teria atacado uma jovem da cidade em 2009. A moça disse que foi agarrada e arranhada por um ser peludo, de quase dois metros de altura, que fugiu em quatro patas quando uma vizinha acendeu a luz. Teve ocorrência policial e tudo. O delegado chegou a suspeitar de que alguém estava usando uma fantasia para assustar a população. Mas a investigação, pelo que se sabe, deu em nada.

Agora, os japoneses querem ressuscitar a história. Se alguém souber de algo a respeito – mesmo que seja o próprio lobão –, por favor me escreva que repasso à coleguinha. Leia outras colunas em zhora.co/nilson_souza

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