terça-feira, 3 de maio de 2016



03 de maio de 2016 | N° 18515 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

PENSAR NÃO CUSTA


Se escrever contribuísse em alguma coisa na conjuntura política, eu aqui voltaria a atacar Cunha ou a indagar por que Moro calou tão subitamente. Mas nem as autoridades brasileiras se interessam minimamente pelo que se chamava, antigamente, de opinião pública, nem os leitores, exceções fora, parecem dispostos a ouvir e levar em conta visões com as quais já não concordem, deste antes de ler. O curtoprazismo, esse inimigo do senso critico.

No fundo, creio que todos os que mantemos alguma saúde mental gostaríamos de empurrar o horizonte para mais adiante. Por exemplo, lapidando e polindo propostas de reforma política que, a médio prazo, fossem capazes de nos livrar de cair de novo nesse atoleiro.

O STF vetou a cláusula de barreira, aquela que impediria, ou reduziria, o florescimento de partidos de aluguel como tantos que agora vendem apoio em troca de cargos e grana. Não seria o caso de voltarmos ao tema?

E o financiamento das campanhas: não tem mesmo um jeito de disciplinar isso, talvez – não sou especialista no tema, longe disso – mediante instituição de fundo público, gerido com transparência, impedido o aporte de empresas acima de um limite razoável? E a campanha, não podia ser menos estridente, mais substantiva, e muito menos dispendiosa?

E que tal rever a velha e, espero, insepulta tese do voto distrital misto, um bom antídoto contra os puxa-votos que acabam levando para o parlamento gente sem qualquer relevância, assim como uma boa estrada para vincular adequadamente o político com uma base regional, meio a meio com a representação de partidos?

Voltar a falar de parlamentarismo seria também oportuno, acho eu, como contraponto a esse modelo vigente, o tal presidencialismo de coalisão, o constrangedor balcão de varejo, que cobra preço muito superior ao valor que gera.

Sempre com fé na perfectibilidade do debate – sou um professor, logo um profissional da esperança –, eu ainda somaria a esse repertório mais uma questão-monstro, a reforma tributária, para diminuir o tamanho do governo central brasileiro, em favor de estados e municípios, mantida uma porção razoável destinada à redistribuição entre regiões mais e menos ricas.

Tem como?

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