quarta-feira, 11 de maio de 2016


11 de maio de 2016 | N° 18522 
PEDRO GONZAGA

UM GUIA NECESSÁRIO


Entre os frequentadores de sebos, há os que sabem o que querem – e o querem por raridade ou bom preço –, e há os degenerados leitores de variedades, esperançosos de encontrar alguma obra que lhes devolva o sangue literário às veias, que lhes espicace a curiosidade, ou que lhes dê a fugaz impressão de que agora suas bibliotecas estão completas.

Pertenço ao segundo grupo. Certa feita, escrevi um poema escarninho sobre uma raridade vislumbrada num sebo da Osvaldo Aranha: Ants of Colorado. Formigas do Colorado. Levei um dia a pensar em como o robusto volume fora parar em Porto Alegre, depois no douto autor americano, digno de verbas e tempo para estudos tão excelsos.

Confesso-vos, apressurados leitores, que durante anos julguei impossível superar em inusitado tal publicação. Mas eis que os deuses das traças me sorriram, e na última sexta-feira encontrei um livrinho de 1891, que me obrigo a compartilhar convosco (para vos gerar inveja e cobiça), de um francês chamado Charles Aubergine, até onde apurei um injustiçado, cujo título é A Arte de Viver entre Poetas.

Selecionei alguns tópicos com o intuito altruísta de deleitar e fazer rir (ou chorar, caso tenhais de conviver com tais criaturas):

1. Poetas são por natureza sensíveis, mas não à maneira das pessoas normais. Podem não chorar diante de perdas humanas e histórias tocantes, mas derramar lágrimas diante de um verso qualquer.

2. Lembre ao seu amigo poeta de que para tudo há limite: nenhum mortal aguenta ler ou ouvir mais do que três poemas por dia.

3. Ser fonte inspiradora de um poeta pode até ser bom para a vaidade, mas nunca para o bolso.

4. Evite lançamentos de poesia: além do livro em questão, você terá de comprar uns outros tantos, pois na plateia todos serão poetas ou aspirantes a poeta (o que é sempre pior).

5. Depois dos românticos (que morriam na flor da idade), os poetas seguem melancólicos e desiludidos, mas levam boa saúde, de modo não ser prudente contar com a bendita tuberculose.

Desairosamente, o espaço me impede de listar os outros 95 estratagemas. Assim, convoco-vos, meus abastados leitores, para que vos organizeis e façais voltar a circular tão insofismável publicação.

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