terça-feira, 17 de maio de 2016



17 de maio de 2016 | N° 18527 
DAVID COIMBRA

Saiba apodrecer

Uma vez, vi Cauby Peixoto no aeroporto de São Paulo. Que pessoa estranha. Ele era muito alto e magro, tinha o rosto repuxado por óbvias cirurgias plásticas e, enrolada no pescoço, revoluteava uma echarpe vistosa como uma jiboia de seda. Tenho quase certeza de que aquele cabelo era peruca. Uma cabeleira repolhuda, com as pontas viradas para fora, cada fio ocupando seu lugar adrede planejado.

Alguém disse que Cauby era o nosso Michael Jackson, e é verdade. Ele era um ser humano... postiço, digamos assim. Ruy Castro, em seu livro A Noite do Meu Bem, conta quando isso começou. Cauby estava no início da carreira, tinha muito talento, mas não o sucesso correspondente. Conheceu, então, um empresário chamado Di Veras, que decidiu que iria arrastá-lo para a fama. 

“Os dentes de Cauby eram um caos, todos de costas uns para os outros”, relata Ruy Castro. “Di Veras mandou extraí-los e substituí-los por próteses perfeitas; deu-lhe um novo guarda-roupa, social e esporte; ensinou-o a se portar diante do microfone, a valorizar seus graves de barítono e a usar as mãos ao cantar”.

Di Veras escolheu até o repertório de Cauby, proibindo-o de cantar composições humorísticas e fazendo-o se concentrar nas românticas. Por fim, pagava algumas meninas para desmaiarem quando Cauby cantava. Como os jovens são muito influenciáveis por tudo o que outros jovens fazem, logo havia meninas que desmaiavam de verdade, quando Cauby emitia um dó de peito.

Cauby se tornou o artista mais popular do Brasil. As mulheres atacavam-no na rua, queriam rasgá-lo e levar pedaços dele para casa. Cauby não era exatamente interessado em mulheres, mas era interessado pela fama. Foi esse interesse, provavelmente tornado vital para ele, que produziu aquela figura exótica que vi no aeroporto.

Não é fácil viver a vida sob o olhar das outras pessoas. Aquele que, de certa forma, foi o sucessor de Cauby em popularidade, Roberto Carlos, também pagou o preço da glória. Alcançada a maturidade, ele se tornou um tipo esquisito.

Dá medo isso de envelhecer de forma esquisita.

Mais do que saber envelhecer, você precisa saber terminar. A trajetória da vida, se não é interrompida precocemente, é sempre a mesma. Tudo nasce, atinge o apogeu, amadurece, apodrece e morre. Apodrecer com sabedoria é uma dádiva. O fim de Cauby pode nos ensinar: é preciso aprender a apodrecer.

Ivan, o pintor

Sempre que vou dizer quem é o Ivan Pinheiro Machado, gasto um parágrafo inteiro. O cara é o PM da editora L&PM, arquiteto, jornalista, fotógrafo, pai da Manoela e do Antônio, irmão do José Antônio, filho do deputado, sobrinho-neto do senador e goleiro que quebrou o dedo quando enfrentávamos o time do Chico Buarque no campo do Força e Luz.

Não bastasse isso tudo, é grande pintor. Hoje, às 19h, inaugura sua exposição no Margs. São 90 quadros em três andares de exposição. Um deles diz outra coisa que o Ivan é: gremista. Essa bandeira tricolor já foi disputada a tapa por ilustres conselheiros do Grêmio. Vá lá e veja por quê.

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