terça-feira, 3 de maio de 2016


03 de maio de 2016 | N° 18515 
CARPINEJAR

A beleza que põe a mesa

A beleza dura pouco. Dez minutos, um olhar, um aperto de mão, um beijo na face. A beleza é provisória. A beleza pode ser destruída rapidamente pela fala, pode ser desmanchada imediatamente por um gesto, pode ser derrubada velozmente por uma grosseria.

Se vejo uma mulher bonita, ela ainda não é bonita. Será bonita por aquilo que fizer. Ninguém é bonito por antecipação. A aparência é efêmera e enganadora. A aparência tem pretensões de uma mentira. Igual à verdade, precisa de provas.

Mesmo que tenha o rosto formoso e simétrico, os lábios carnudos, as curvas do corpo na medida certa, nada assegura que seja bonita. É colocar cedilha no lugar errado, é ofender de graça, é cuspir ódio, que se torna feia.

Já vi mulher bonita muito feia. Já vi mulher feia se revelar essencialmente bonita. A arrogância estraga a beleza. A humildade salva a beleza.

Saber-se linda e se achar feia são pretensões perigosas. Não enxergamos somente com a visão, mas com o olfato, o tato, o paladar e a audição.

Ser bonita para os olhos é raso. Quem canta, quem dança, quem conversa com as ideias encadeadas, quem explode uma primavera temporã em seus cabelos assume uma lindeza inédita e permanente.

A generosidade, a cordialidade, a esperança e a firmeza garantem a longevidade da atração.

Quando uma mulher linda se aproxima, espero pacientemente que ela se mostre. Não há pressa para descobrir. Será mesmo linda pela forma que segura o cálice, pela forma que cuida de quem está excluído, pela forma que procura manter ou acabar com o silêncio, pela forma que olha nos olhos e segura o mundo no queixo.

Não há nada mais bonito do que uma mulher com temperamento difícil. Aquela que briga por suas crenças é inesquecível. Não ser esquecido é o que cada um deseja secretamente para a sua vida, é a maior ambição do amor. Mulher que aceita tudo, sem alma nas palavras, por sua vez, é tão sem graça.

Não é a roupa que define o ângulo do arrebatamento, são a simplicidade e o despojamento. Estar confortável em si, demonstrar alegria de ser, rir com a língua mais do que com os dentes sustenta o charme.

A empatia é a beleza que fica. A beleza é um mero cumprimento.

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