quarta-feira, 18 de maio de 2016


18 de maio de 2016 | N° 18528 
FÁBIO PRIKLADNICKI

VENCER OU FRACASSAR


Há um conto do Dublinenses, de James Joyce, que me chamou a atenção desde a primeira leitura pelo que nos ensina sobre o que é vencer ou fracassar na vida, esses conceitos vagos mas tão presentes entre nós. Uma Pequena Nuvem trata do reencontro, depois de oito anos, entre dois amigos. 

A história é narrada na terceira pessoa, do ponto de vista de Little Chandler, morador de uma provinciana Dublin – casado e pai de um bebê – que leva uma vida miúda, digna de uma história de Tchékhov. Little Chandler, que é diminuído desde o apelido (“embora de estatura quase normal, dava a impressão de ser um homem pequeno”), está empolgado em rever Gallaher, que “vencera na vida” trabalhando na imprensa da cosmopolita Londres.

O encontro dos dois, em um bar descolado da capital irlandesa em que Little Chandler nunca havia estado, causa-lhe admiração e orgulho pelo amigo e, ao mesmo tempo, frustração por perceber que Gallaher leva a vida que ele gostaria de ter se não fosse tão tímido e pouco ousado. Chandler tem aspirações poéticas, mas não se encoraja sequer para ler um poema para sua mulher. Cogita pedir ajuda para Gallaher a fim de publicar algo de sua lavra, mas no final não traz o assunto à baila.

Gallaher, que foi no passado um sujeito perdido na vida, parece ter encontrado um rumo. Viaja pelas capitais europeias conhecendo pessoas interessantes e lugares encantadores. Solteiro, só pensa em casar quando questionado pelo amigo e, mesmo assim, seu objetivo é encontrar uma mulher rica para ter uma vida confortável – claramente oposta à vida econômica de Little Chandler.

Uma Pequena Nuvem não fala das vantagens de ter uma vida mundana. Trata da importância de estar realizado de acordo com o que você deseja. É perfeitamente possível ser feliz com uma vida em família. E é possível estar frustrado com o estilo de vida de Gallaher – na verdade, o conto não nos mostra seus pontos fracos. Talvez você possa combinar um pouco de cada vida, quem sabe? Mas essas escolhas cabem exclusivamente a cada leitor.

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