03 de maio de 2016 | N° 18515
DAVID COIMBRA
O olhar de Monalisa do Dinho
O Dinho é meu irmão francês. Está certo: ele não é meu irmão de sangue nem francês de nascimento, mas eu o adotei como irmão e ele adotou a França como seu país, ainda que eu tenha outros irmãos e ele tenha outro país.
No caso, o Brasil. O Dinho é brasileiro.
Mas há 20 anos vive num apartamento incrustado numa das melhores ruas de um dos melhores bairros de Paris, o Saint-Germain-des-Prés. Esse tugúrio do Dinho fica encarapitado num íngreme sexto andar, sem elevador ou teleférico. O que, segundo o Luis Fernando Verissimo, é uma vantagem: as moças que eventualmente se encorajam a escalar até lá acabam cedendo aos encantos do Dinho para não perder a viagem.
Isso das moças quem diz é o Verissimo. E isso dos encantos quem diz é o Peninha, outro de seus amigos famosos, segundo o qual o Dinho tem um “olhar de Monalisa”.
Todo mundo gosta do Dinho. Todo mundo é amigo do Dinho. O Chico Buarque é amigo do Dinho. Quando o Chico vai a Paris, eles bebem vinho nacional e jogam bola juntos.
Essa facilidade que o Dinho tem de conquistar as pessoas decerto o ajudou em seu trabalho como jornalista. Sim, porque, se você não é um dos tantos amigos do Dinho, haverá de conhecê-lo como Fernando Eichenberg, um dos mais importantes correspondentes brasileiros no Velho Mundo.
Durante todos esses anos europeus, Fernando Eichenberg entrevistou centenas de personalidades que moram na França ou que por lá passaram. Escreveu um livro com algumas dessas entrevistas e, hoje, está lançando o segundo volume, o Entre Aspas, a partir das 19h, na Saraiva do Moinhos.
Lendo o livro, você perceberá como os entrevistados simpatizam com o Dinho e se abrem facilmente com ele, como se estivessem nos altos daquele sexto andar de Saint-Germain. Todos se deixam enlevar pelo tal olhar de Monalisa, desde o Pantera Negra, goleiro da célebre seleção Húngara dos anos 1950, até o ator americano John Malkovich, passando pelo filósofo Luc Ferry, o cantor Charles Aznavour e Catherine Millet, uma senhora que durante o dia editava uma sisuda revista de arte e durante a noite se entregava aos mais variados e tórridos gêneros de orgia da capital francesa. Catherine escreveu um livro relatando com pormenores suas aventuras sexuais e vendeu mais de 2 milhões de exemplares.
Uma das entrevistas de que mais gostei foi a que o Dinho fez com Uderzo, o desenhista de Asterix e Obelix. Sou fã das histórias do Asterix. Tinha todos os álbuns. Na entrevista, Uderzo se queixa de não conseguir entrar no mercado norte-americano. E é verdade. A gente não encontra Asterix por aqui. Nem Asterix, nem outro clássico, Tex Willer. Fui a algumas grandes lojas de gibi de Boston e em nenhuma delas eles sequer sabem quem é Tex Willer. Achei um escândalo, sobretudo porque, embora tenha sido criado por um italiano, Tex é americano. Cáspite! Mas, como disse o Uderzo, quem perde com isso são os americanos.
Perderá você também, se não ler o livro do Dinho. Vá ao lançamento hoje e confira aquele olhar de Monalisa. Diga-me depois se vale subir até o sexto andar.
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