02 de maio de 2016 | N° 18514
REPORTAGEM ESPECIAL
O DESEMPREGO QUE GERA MAIS DESEMPREGO
CRESCIMENTO DE DEMISSÕES entre chefes de família quase dobra em um ano e leva outros integrantes do núcleo doméstico a sair à procura de vagas, elevando taxa de desocupação na Grande Porto Alegre
A fila dos que procuram trabalho não é engrossada só pelo aumento das demissões. Resultado da crise que assola setores como indústria e construção civil, o crescimento do desemprego entre chefes de família contribui para elevar ainda mais os níveis de desocupação por forçar outras pessoas da família a também se lançar em busca de colocação para recuperar a renda da casa.
Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) mostram que a falta de trabalho entre os chefes de família na região metropolitana da Capital quase dobrou em um ano. Em março, alcançou 7,5%, resultado 92% acima do mesmo mês de 2015. Foi ainda a maior taxa mensal desde agosto de 2007. Em números absolutos, o aumento chega a 86%. Eram 36 mil pessoas e, agora, são 67 mil.
– Quando o chefe de família fica desempregado, a mão de obra subsidiária ou adicional, como mulher e filhos, também passa a procurar emprego. Ou seja, embora uma pessoa tenha sido demitida, nesse caso, passam a ser mais três em busca de vaga. Por isso, o desemprego cresce significativamente – explica o professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Giácomo Balbinotto Neto, estudioso do tema.
No dado divulgado mais recentemente, na sexta-feira, a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, apontou que, no primeiro trimestre, o desemprego atingiu 10,9% da população economicamente ativa, ante 7,9% em igual período de 2015. Isso significa aumento de 3,2 milhões de pessoas desocupadas no país.
– O desemprego vem crescendo mais entre homens, acima de 40 anos e chefes de família – destaca a economista Iracema Castelo Branco, coordenadora do Núcleo de Análise Socioeconômica e Estatística da Fundação de Economia e Estatística (FEE), responsável pela PED junto com Dieese e FGTAS.
HOMENS PASSAM A SER MAIORIA DOS DEMITIDOS
Como a maioria dos chefes de família são do sexo masculino, o recorte de gênero também mostra mudança. Em março de 2015, 46,3% dos desempregados eram homens e 53,7%, mulheres. Agora, eles passaram a ser 51,1% dos desocupados. Elas, 48,9%.
Um fenômeno associado aparece na queda da renda real (descontada a inflação) das pessoas ocupadas, que baixou de R$ 2.078 para R$ 1.883. A retração de 9,4%, diz Iracema, pode ser explicada pela busca das empresas em reduzir custos com mão de obra. Assim, demitem e, quando recontratam para reposição, passam a pagar salário menor para a mesma vaga. Embora a diferença venha diminuindo, as mulheres ainda têm, em média, salário inferior aos homens no país, lembra.
Para o coordenador do Conselho de Relações do Trabalho e Previdência Social da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Paulo Garcia, o cenário mais provável é que o emprego não reaja pelo menos até o próximo ano. Um ponto essencial, avalia Garcia, é o desfecho da crise política, para recomeçar a colocar a economia de volta nos trilhos.
Apesar da forte recessão no Brasil, o desemprego é potencializado pela legislação trabalhista engessada, opina Garcia. Com pouca margem para negociação entre patrões e empregados, a demissão passa a ser quase a única forma de reduzir custos com mão de obra em períodos de crise.
caio.cigana@zerohora.com.br
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