11 de maio de 2016 | N° 18522
DAVID COIMBRA
A presidente que mandava na empreiteira
Confesso ter sentido um laivo de prazer ao deparar com o pedido de desculpas da Andrade Gutierrez nos jornais desta semana. Foi como se aquele comunicado tivesse sido escrito para mim.
Nada contra a Andrade Gutierrez, empresas não têm vontade própria. É que, há quatro anos, quando ainda não havia Operação Lava-Jato, quando as empreiteiras eram consideradas donas do Brasil e quando o presidente da República era considerado rei, travei um debate no Sala de Redação por causa de um episódio envolvendo a AG.
Um trecho de cinco minutos da discussão está registrado no YouTube. É de 2 de março de 2012. No dia anterior, Zero Hora publicou, na nobre página 4, reportagem escrita em parceria por Kelly Matos e Carolina Bahia acerca do impasse havido entre o Inter e a hoje contrita AG pela reforma do Beira-Rio. As obras estavam paradas havia mais de ano, a empreiteira não queria fazer o negócio. Dilma MANDOU que fizesse. Destaco parte do texto:
“Dilma enquadrou o presidente do conselho de administração, Sérgio Lins Andrade, e o presidente-executivo do grupo, Otávio Marques de Azevedo:
– É o meu clube, é o meu Estado. Não há hipótese nenhuma de a empresa sair que nem cachorro e deixar todo mundo de pincel na mão – esbravejou a presidente.
Irritada, Dilma cobrou uma solução rápida para o impasse, proibindo a AG de abandonar o projeto”.
Como é que é? Dilma “enquadrou” o presidente de uma empresa privada? Dilma disse que “não havia hipótese” de a empresa desistir do negócio? Cobrou uma “solução rápida”? “Proibiu” a AG de abandonar o projeto?
Era um escândalo. Que relação existia entre a presidente da República e uma empreiteira, permitindo que a presidente interferisse diretamente nas decisões da empreiteira? Que gênero de ameaças Dilma fez aos executivos, obrigando-os a fechar um negócio que rejeitavam? Que poder era esse que Dilma possuía? O que ela podia negar ou oferecer à empreiteira?
Contratos firmados entre empreiteiras e governos têm de ser feitos através de concorrência pública, é preciso haver licitação, controles externos. É escolha técnica. Um governante NÃO PODE interferir no processo de escolha de uma empresa que fará qualquer obra para o Estado. É CONTRA A LEI. Quando o governante faz isso ele COMETE CRIME. Mas Dilma mandava tanto na AG, que interferiu até em um negócio privado entre a empresa e o clube de futebol.
Um governante não tem poder para interferir nas deliberações de uma empresa, um governante não pode obrigar uma empresa a fazer o que não quer. A relação entre governantes e empresas tem de ser impessoal e estritamente profissional.
Mas ficou claro que não foi o que ocorreu, no caso da reforma do Beira-Rio. Ficou claro que, se a empresa não aceitasse fazer o serviço, perderia vantagens, provavelmente contratos bem mais gordos e lucrativos. Ficou clara a chantagem. Essa é a palavra: chantagem.
Quando meus colegas do Sala de Redação disseram que eu estava “insinuando” algo, respondi que não estava insinuando nada: estava afirmando “com todas as letras” que era no mínimo suspeito um presidente agir daquela forma.
Isso foi em 2012. Dois anos depois, a Lava-Jato seria desencadeada. O presidente da empresa, aquele que foi pressionado por Dilma, acabou preso exatamente devido à natureza de seu relacionamento com o governo, e hoje está retido em casa, com um rastreador eletrônico amarrado ao tornozelo. A própria empresa admitiu ter pago propina ao governo para obter contratos, pediu desculpas e aceitou, feliz, assumir uma multa de R$ 1 bilhão.
O que há quatro anos era suspeita se confirmou.
O governo Dilma cometeu crime, sim.
A justiça está sendo feita hoje e amanhã, em Brasília.
Impeachment nela.
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