sábado, 7 de maio de 2016

07 de maio de 2016 | N° 18519 
PAULO GERMANO

  • Um dia qualquer no Departamento de Propina

    E esse departamento de propina da Odebrecht? – Deprop, boa tarde! – imagino a telefonista atendendo.

    Nem em filme se viu isso, um setor inteiro para subornar políticos. O procurador-geral da República enviou na semana passada ao Supremo Tribunal Federal um parecer ressaltando que a repartição tinha funcionários, estrutura própria e sistema de contabilidade. Achei muito intrigante.

    Consigo enxergar a movimentação nos corredores do Deprop, o office boy angustiado com uma pasta marrom embaixo do braço:

    – Disseram para eu levar isso aqui para o Cadáver. Não sei quem é Cadáver.

    – Cadáver, Cadáver... Acho que é aquele deputado magro – responde o analista de Gratificações para Deputados, prontamente interrompido pelo analista de Gratificações para Ministros.

    – Tem outro magrelo na Esplanada, viu? Melhor confirmar com a Criação.

    Criação? O jovem segue a orientação do analista, entra em uma sala bagunçada, cheia de jovens falando alto, e lê na parede o novo slogan do departamento: “Deprop – Uma mão molha a outra”. Ele repara que a turma debate criativos apelidos, entre eles Nervosinho, Drácula, Avião, Caranguejo, Comprido, Sumido, Múmia, Viagra, Comuna, Ovo e Candomblé. Nada do Cadáver.

    Antes que ele pergunte, o diretor de Caixa 2 invade a sala: – Reunião urgente!

    – Iiih, lá vem a mala... – sussurra o gerente de Conluios, sem perceber que o chefe traz uma mala de verdade. Ele abre a valise preta enquanto todos se aproximam.

    – Que que é isso aqui??? – e aponta para os maços de dinheiro. – Estava no escaninho dos vereadores! Desde quando um vereador nos tira R$ 3 milhões???

    – Mas, chefe, o vereador Catavento nos ajudou na obra do estádio e... – Não interessa! Vereador leva R$ 1 milhão no máximo! Responsabilidade fiscal, senhores! Responsabilidade fiscal!

    O telefone toca em meio ao sermão, e o office boy, nervoso, transfere para a telefonista. Surge na linha uma musiquinha, uma versão robotizada de “Mamãe, eu quero mamar”, então se ouve a gravação: “Para solicitar acarajés, disque 1; para reagendar uma entrega de acarajés, disque 2; para saber quanto vale um acarajé, aguarde um de nossos atendentes”.

    Meses depois, na festinha de fim de ano, lá estão o office boy e seus colegas com presentes na mão. Quem toma a palavra é o assessor de Jabás e Jabaculês da Subdivisão de Subornos Agrícolas:

    – Meu amigo secreto, embora muito inteligente, achava que cartel só existia em seriado da Netflix... Dúvida na sala de reunião, o pessoal pede outra dica. – Meu amigo secreto já levou cantada do Viagra!

    – É a Lurdinha! Vai lá, Lurdinha! – grita uma meia dúzia, todo mundo aplaude, aí a Lurdinha, que é coordenadora da Seção de Desestímulos de Depoimentos em CPIs, toma a frente do grupo.

    – Meu amigo secreto é uma figura: passou três dias procurando o Cadáver na Câmara sem saber que ele era ministro!

    O office boy, meio constrangido, é aclamado entre gargalhadas. Dá um beijo na Lurdinha e recebe dela uma garrafa de vinho. Aberta. Com um quarto da bebida faltando.

    – O que houve com o resto? – pergunta ele. – Foi mal, desculpa... 25% foi para o teu supervisor.
  • Como assim, Francisco Salzano?

    Geneticista, membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos e doutor honoris causa da Universidade de Toulouse, na França

    O bispo Marcos Pereira (PRB), da Igreja Universal, é cotado para assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia em um eventual governo Temer. Mas é possível religião e ciência caminharem juntas?

    Ciência e religião compreendem visões de mundo distintas. Enquanto na religião tudo se explica por meio da revelação divina, na ciência o que se faz é uma avaliação da realidade e, a partir desta avaliação, estabelecem-se hipóteses que podem inclusive ser contestadas. É difícil que uma pessoa com forte posição religiosa possa representar a ciência. No caso de um líder da Igreja Universal, me parece um absurdo, um contrassenso completo.

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