sexta-feira, 27 de maio de 2016

Notícia da edição impressa de 13/05/2016. Alterada em 12/05 às 21h31min

Os pecados de Dilma e a guerra dos cabides



REPRODUÇÃO/JC
O festejado jornalista Ricardo Noblat apresentou, na versão impressa de O Globo e em seu blog, uma análise sobre o comportamento da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) nos seus cinco anos e quatro meses de poder. O relato vem recheado por detalhes de situações pitorescas, humilhantes. Os dois mais notórios são o de uma ex-ministra que fez pipi na roupa e o da camareira que enfrentou a presidente em uma "guerra de cabides". Eis o resumo:
1. GULA - Dilma emagreceu 20 quilos no período de pouco mais de um ano e emagreceu também o País ao fazê-lo mergulhar na pior recessão de sua história desde os anos 30 do século passado. Nem por isso ela deixou de atentar contra o pecado da gula. Presidente algum, nem mesmo os da ditadura de 1964, se empenhou tanto em concentrar o poder como Dilma o fez. Seu apetite era insaciável. Confiou em poucos auxiliares. E mesmo desses costumava duvidar quando lhe diziam o que não queria ouvir. Foi uma gerente à moda antiga e, como tal, ineficiente. Na organização de esquerda na qual militou nos anos 1970, ganhou fama como tarefeira. Fazia o que lhe mandavam. E só se distinguiu por isso.
2. AVAREZA - O dicionário capenga de Dilma não tem o vocábulo "elogio". O que move pessoas, levando-as a superar limitações, é o reconhecimento. Sem ele não se consegue desempenho acima da média. A maioria dos ministros escolhidos por Dilma destacou-se por sua mediocridade ou falta de iniciativa. Mesmo os melhores acabaram se igualando aos demais por falta de incentivo. Fernando Haddad (PT), atual prefeito de São Paulo, largou o Ministério da Educação. Nelson Jobim (PMDB) deixou o Ministério da Defesa, para não ter que brigar com Dilma. "Não, você não entende de nada disso", gritava se a opinião de um ministro ou assessor a contrariasse. Certa vez, de tão assustada com o que Dilma lhe disse, uma ministra da área social fez pipi na calça, em plena reunião ministerial.
3. LUXÚRIA - O desejo egoísta por todo o prazer corporal e material está longe de marcar o desempenho de Dilma como presidente. Mas a vontade de sentir-se superior em relação aos semelhantes é também uma forma de luxúria. Humilhou Geddel Vieira Lima (PMDB), então ministro da Integração Nacional, num encontro dos dois com Lula (PT). Desde que eleita, exigiu ser tratada como "presidenta" e, para tanto, até sancionou uma lei (nº 12.605/12), que só faltou ter a fotografia dela, ao determinar o emprego obrigatório da flexão de gênero para nomear profissão ou grau em diplomas. Expulsou um general do elevador privativo do Palácio do Planalto. Fez chorar José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. E deixou em pânico o jardineiro do Alvorada ao culpá-lo pela bicada de uma ema no cachorro que ela ganhara de presente de José Dirceu (PT).
4. IRA - Um dos ministros do governo inicial de Dilma anotou os frequentes surtos presidenciais. Quando ele já colecionava 16 episódios em dois anos, desistiu, porque a ira já havia se banalizado. Dentre eles, o que ficou conhecido como "A guerra dos cabides". Irritada com a arrumação do seu guarda-roupa no Alvorada, a presidente começou a jogar cabides em Jane, a camareira. Esta reagiu jogando os objetos de volta. A servidora acabou demitida, mas depois foi presenteada com outro emprego, em troca do seu silêncio.
5. INVEJA - A inveja de Lula responde por uma série de atritos que Dilma teve com ele, prejudicando seus governos. Logo de saída, tentou mostrar que não seria tolerante como Lula fora com os suspeitos de corrupção. Considerava-se a "faxineira ética", capaz de demitir sete ministros em menos de um ano. Nos anos seguintes, aconselhada por Lula, ela readmitiu alguns e empregou representantes dos outros para garantir apoio à sua reeleição. Descumpriu um pacto, não escrito, assumido com Lula que permitiria o retorno dele à presidência em 2014.
6. PREGUIÇA - Não fugia de longos expedientes e de meter-se em tudo, inclusive no que não deveria. A preguiça de Dilma foi a de não ouvir, não conversar, não trocar ideias e não gostar de conviver com pessoas. Dilma é uma mulher solitária; amava o pai; não se dá bem com a mãe. Quando a Câmara aprovou o impeachment, o ministro Jaques Wagner (PT) sugeriu a Dilma que telefonasse para cada um dos 137 deputados que haviam votado a favor dela, a quem entregou a lista dos 137 com pelo menos dois ou três números de telefone de cada um. Destacou quatro telefonistas para as ligações. Dilma não quis. Entrementes, Michel Temer (PMDB) telefonou para todos os 367 deputados que votaram a favor do impeachment. Muitas razões explicam a queda de Dilma, mas talvez a principal seja o fato de ela não gostar de ninguém e de ninguém gostar dela.
7. SOBERBA - Desprezou os políticos em geral, e a maioria deles em particular. Evitou aproximar-se deles e recebê-los. Tratou-os como cargas que era obrigada a carregar. Um exemplo: há mais de três anos, o ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pede, sem sucesso, para ser recebido por ela. Diante do risco de a Lava Jato bater à sua porta antes da reeleição, Dilma divulgou uma nota que afastava qualquer culpa dela, mas que deixava Lula exposto à suspeita de que a roubalheira na Petrobras fora obra dele, sim. Pode ter sido. Mas pode ter sido de Dilma também. Por mais que a soberba a impeça de reconhecer, ela e Lula estarão ligados para sempre pela história do País.

Responsabilidade dos notários

Foi a última canetada legal de Dilma, antes da queda. Ela sancionou anteontem a Lei nº 13.286, que dispõe sobre a responsabilidade civil de notários e registradores, alterando o art. 22 da Lei nº 8.935/1994.
Entra em vigor a seguinte nova redação: "Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso".
A pretensão de reparação civil prescreve em três anos, contado o prazo da data de lavratura do ato registral ou notarial.

Falência da autoridade política

Quando Fernando Collor caiu, na última semana de dezembro de 1992, o jurista gaúcho - e ex-presidente do Grêmio Porto-Alegrense - João Leitão de Abreu foi entrevistado pelo jornalista João Bosco Rabello, de O Globo. Apontando para uma pilha de livros sobre Direito Constitucional e Introdução à Ciência do Direito, Leitão explicou que "estas são obras muito boas sobre Direito, mas nenhuma delas faz referências à falência da autoridade política". Collor caiu por isso.
Dilma repetiu a falência da autoridade política. O que ela dizia deixou de valer; o que ela determinava que fosse feito era ignorado. A presidente passou a viver em um mundo de ficção. E assim será até que sua sorte seja definitivamente selada dentro de seis meses.

O presidente 'picante'

O novo presidente brasileiro é "um reconhecido advogado constitucionalista, que tem aparência ligeiramente gótica e que, a despeito da expressão impassível, tem uma vida pessoal um pouco picante", afirmou, na quarta-feira, o jornal londrino Financial Times, num perfil sobre Michel Temer. Conforme a publicação, ele terá a tarefa de "resgatar a maior economia da América Latina de uma profunda recessão e restaurar a fé pública na classe política que foi devastada pelo escândalo de corrupção na Petrobras".
O perfil explora especialmente os aspectos pessoais da vida do vice-presidente, como o casamento e as poesias escritas por ele. Chegar ao Palácio do Planalto, diz o jornal, "vai levar o ex-professor de Direito, cuja expressão impassível esconde uma vida pessoal mais picante, ao centro das atenções".
A publicação relembra que, "casado três vezes, Temer começou a namorar a terceira esposa, Marcela, uma ex-modelo, 40 anos mais jovem do que ele, quando ela ainda era uma adolescente. Sua aparência ligeiramente gótica também levou um rival a rotulá-lo como "mordomo da casa do terror". O texto menciona uma entrevista à revista TPM, em que Marcela diz que o marido parece ter 30 anos de idade e o classifica como um homem "extremamente charmoso".
O perfil arremata que o novo presidente, porém, "pode ser ameaçado pelo esquema de corrupção na Petrobras, pois seu nome foi citado por algumas testemunhas ouvidas pela investigação". O jornal ressalva que "porém Temer não está sendo investigado oficialmente e nega qualquer irregularidade no caso".

A piora do Congresso

O deputado Ulysses Guimarães espantou muita gente quando disse, em 1990, uma frase que passou a se constituir num autêntico teorema político: "Um novo Congresso será sempre pior do que o anterior". Que o confirme, agora, o desastrado Waldir Maranhão (PP-MA).
A "rádio-corredor" do Conselho Federal da OAB "cunhou" agora (é bem esse o verbo) o que se chama de "Teorema do Cunha": "Como é certo que, a cada quatro anos, alguns novos deputados vão se corromper, e que nenhum dos corruptos já estabelecidos vai se regenerar, assim se explica porque, a cada legislatura, o Congresso está piorando".

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