terça-feira, 24 de maio de 2016


24 de maio de 2016 | N° 18533
EDUCAÇÃO

Bate-boca em ocupações expõe conflitos nas escolas


NA CAPITAL e em Caxias do Sul, impasses entre ocupantes e não grevistas exigiram intervenção da BM

Professores querendo lecionar e alunos que desejavam ter aulas encontraram portões e semblantes fechados ontem em escolas que foram ocupadas em Porto Alegre e em Caxias do Sul. Na Capital, estudantes de uma escola técnica foram impedidos de chegar às salas por colegas do Ensino Médio. Já na Serra, professores que não participam da greve da categoria tiveram seu ingresso impedido em dois colégios.

Houve princípio de confusão em ambas as cidades, e a Brigada Militar (BM) acabou sendo acionada para evitar conflitos. Os casos expõem a insatisfação de parte de alunos e professores contrários à paralisação do magistério e à ocupação das escolas que encontram entradas bloqueadas por seus colegas, os quais reivindicam melhorias na estrutura das instituições e reposição salarial, entre outras pautas.

Na Escola Técnica Parobé, na região central da Capital, a confusão ocorreu pouco antes das 10h, quando alunos que teriam aulas foram impedidos por colegas de pegar chaves das salas de aula. Houve bate-boca, e estudantes encerraram a ocupação, hostilizados por outros alunos. A BM foi chamada ao local para acompanhar a saída do grupo.

Na Escola Estadual Presidente Roosevelt, no Menino Deus, o tumulto ocorreu pela manhã, quando pais e professores não grevistas teriam discutido com alunos que ocupam o prédio principal da escola. De acordo com Gabriel Fernandes, 17 anos, do 3º ano e presidente do grêmio estudantil, havia um acordo com a direção da escola, que teria sido descumprido.

– Ficou acertado que iríamos ocupar todo este prédio e de que não entraria ninguém. Os alunos com aula ficariam no prédio dos fundos. Mas a diretora não cumpriu, abriu os portões, e fomos ameaçados e agredidos, fisicamente, inclusive, por professores não grevistas.

ZH esteve na instituição e abordou a diretora, a professora Maricy Bonorino, que respondeu não ter “nada a ver com isso” e se retirou.

Para Vitor Vieira, representante do grupo informal de pais de alunos da Roosevelt (criado devido à ocupação), a confusão se deu devido à revolta de pais que não têm onde deixar os filhos no horário letivo e de professores impedidos de dar aula.

– Após a confusão, no entanto, fizemos uma ata em que ficou acordado que o colégio ficará com o portão principal aberto para a entrada de todos. Os alunos ocupantes poderão continuar no prédio principal, e os que têm aula terão acesso ao pavilhão de trás.

O grêmio estudantil da escola nega que professores tenham sido impedidos de dar aula. Segundo eles, o pavilhão dos fundos esteve disponível todo o tempo.

PAIS E MESTRES SE POSICIONAM PELA CONTINUAÇÃO DAS AULAS

A Federação das Associações e Círculos de Pais e Mestres do Estado declarou posição contrária à ocupação das escolas, defendendo o direito de professores e alunos terem aulas.

– Os alunos que querem ter aula não conseguem. Não pode uma minoria ocupar o espaço de uma maioria – afirma Berenice da Costa, presidente da federação.

Conforme o subprocurador-geral de Justiça do Estado Fabiano Dallazen, o Ministério Público (MP) tem feito um levantamento sobre as escolas ocupadas e as pautas de reivindicação na tentativa de contribuir para uma solução. Por enquanto, o MP não planeja pedir a reintegração de posse desses colégios ou sugerir a remoção de alunos por parte da BM.

– Não queremos atropelar o tempo do Estado, mas contribuir com o diagnóstico. Optar pela desocupação ou o uso da força é uma atribuição da Secretaria da Educação. O MP não vai ingressar com ações neste momento. Mas, se a situação persistir, podemos, ali na frente, reavaliar – garantiu Dallazen.

Conforme a página do movimento Ocupa Tudo RS, há 128 escolas ocupadas em mais de 50 cidades no Estado. Em levantamento feito por ZH, 32 confirmaram a ocupação.

bruna.scirea@zerohora.com.br guilherme.justino@zerohora.com.br

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