sexta-feira, 13 de maio de 2016



13 de maio de 2016 | N° 18524 
DAVID COIMBRA

Os guerreiros da pátria

Dilma! Guerreira! Da pátria brasileira!

Senti uma suave melancolia ao ver pela TV os manifestantes gritando esse versinho, quando Dilma saiu do Planalto.

O chefe do Executivo de um país civilizado não tem de ser guerreiro. Tem de ser competente, bom administrador e, de preferência, prudente.

Guerreiros são generais, sargentos e zagueiros do Guarany de Bagé.

Um chefe de Executivo ou qualquer outro político tampouco merecem uma única lágrima de tristeza ou de alegria da população. Um país em que as pessoas choram por causa da política é um país em perigo.

Os brasileiros, tristemente, adoram chorar por seus políticos.

Em 23 de agosto de 1954, Getúlio Vargas era um homem desprezado pela população. Sairia do Catete provavelmente para a cadeia.

Já Carlos Lacerda era uma vítima – havia sido baleado a mando de um esbirro de Getúlio.

Getúlio resolveu o problema metendo o chumbo de uma bala calibre 32 no coração. Morto, foi beatificado. Ao mesmo tempo, Lacerda tornou-se o algoz, teve de sair do país para evitar represálias.

O azar de Lacerda foi ter levado um tiro no pé. Fosse no coração, estaria morto, mas consagrado.

Tancredo também foi salvo pela morte. Se continuasse vivo, pegaria o Brasil com hiperinflação e dificilmente teria resultado melhor do que Sarney.

E Campos, de quem você nem se lembra mais, quase elegeu um presidente do Brasil só por ter falecido.

O brasileiro também adora votar num morto.

Lágrimas. Desespero. Devoção. Brios. Luta. Orgulho. Nada disso deve fazer parte da política. A política é uma atividade racional. Ou pelo menos teria de ser.

O Executivo não tem de ser herói de nada, não tem de ser salvador de coisa alguma. O Executivo tem de ser idôneo e eficiente. E tem de ter compreensão de que a democracia se faz pelo cumprimento da lei.

É certo que o Estado precisa proteger o mais fraco da eventual opressão do mais forte, mas proteção não significa privilégio. O Estado não pode ser dos menos favorecidos, dos mais favorecidos, dos brancos, dos pretos, dos mamelucos, dos orientais ou dos índios. O Estado é de todos.

E, se funcionar bem, o Estado fará bem a todos.

Chega de paixão na política. A paixão emburrece. Todo apaixonado é um taipa.

Se você entra em desespero ou em êxtase por causa da política, você está com problemas. Se o país entra em desespero ou em êxtase por causa da política, o país está com problemas.

O Brasil não precisa de arrebatamento, precisa de pensamento.

O Brasil precisará sempre de políticos com bom senso, jamais de guerreiros.

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