quinta-feira, 10 de março de 2016



10 de março de 2016 | N° 18469 
L. F. VERISSIMO

A intenção do carnaval


“Ninguém está acima da lei” foi o refrão que acompanhou a ida do Lula, à força, para depor na semana passada. Perfeito. Numa República democrática, ninguém deve se considerar acima da lei, nem ex-presidentes. Mas faltou um adendo: “Nem juízes”.

A condução coercitiva determinada pelo Moro foi, mais do que um circo desnecessário, uma ilegalidade. Pela lei, a condução coercitiva é usada quando uma intimação não é atendida. Não foi o caso do Lula, que já tinha deposto três vezes sem necessidade da força. Se uma ação policial é descabida e fora da lei e mesmo assim é realizada, e com estardalhaço, resta especular sobre o que motivou a ação e o estardalhaço. Foi só para humilhar o Lula? Foi uma deliberada demonstração de força, tão compulsiva que se fez mesmo em desafio à sua evidente ilegalidade e à sua previsível repercussão?

É difícil acreditar que a Polícia Federal não tivesse outro canto de São Paulo para ouvir o Lula a não ser o Aeroporto de Congonhas, com sua implícita pequena distância, de avião, de Curitiba e da prisão, se a polícia assim quisesse. E no fim ainda tivemos a espantosa declaração do Moro de que o método e o local da deposição do Lula tinham sido escolhidos para proteger o ex-presidente.

Ninguém está imune a ela, de acordo, mas a biografia de alguém deveria valer alguma coisa ao se avaliar sua posição, acima ou abaixo da lei. Para ficar só nos ex-presidentes: o Fernando Henrique Cardoso, pelo seu histórico de intelectual engajado e homem público – não importa o que você pensa do governo dele – não merece ver sua vida privada transformada numa novela das nove e ter que dar explicações sobre um assunto que é só da conta dele e da família dele. 

Da mesma forma o Lula, pela sua história, pelo que ele representa, deveria ter outras considerações além da pequena regalia de não precisar usar algemas. Ou talvez a intenção do carnaval fosse essa, mesmo, a de mostrar para essa gentinha metida a grande coisa que, só porque foi presidente, o ex-torneiro mecânico que idolatram, com sua adega de vinhos caros e os pedalinhos pras crianças, mereça algum respeito.

MILITARES

Um leitor me adverte que 90% dos militares brasileiros concordam com o que diz o Jair Bolsonaro. Noventa por cento dos militares brasileiros concordam que a ditadura deveria ter matado, em vez de apenas torturado, quem prendeu? Duvido.

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