quarta-feira, 30 de março de 2016



30 de março de 2016 | N° 18486 
MARTHA MEDEIROS

Labirintite

Lula contratou 21 advogados e oito escritórios para defendê-lo. O sistema de propinas da Odebrecht funcionava desde o governo Sarney. Dilma é vista como desequilibrada pela imprensa estrangeira. Golpistas do PMDB, PSDB, PP, DEM e demais partidos de direita estão a postos para assumir e continuar saqueando o país como sempre fizeram. Sergio Moro é nomeado o 13º maior líder do mundo pela revista Fortune. A revista Veja é desmentida em menos de 24 horas sobre matéria que denunciava plano de fuga de Lula para a Itália. A mãe do juiz Moro é xingada. 

A família do ministro Teori Zavascki também. Alguns políticos ladrões estão entre os que irão decidir se a presidente deve sofrer impeachment. Dilma é acusada de obstruir a Justiça. Chico Buarque proibiu o uso de suas músicas em espetáculo que atacou o PT. O esforço para retirar Dilma da Presidência é luta pelo poder e não luta contra a corrupção. A nomeação de Lula para a Casa Civil é considerada um tiro no pé. Bolsonaro teria 52% de intenções de voto caso as eleições fossem hoje. Não vai ter golpe. Não é golpe. É. Não é.

Ao deslizar pela timeline de amigos no Facebook, encontrei essas postagens embaralhadas e acompanhadas de comentários ora ufanistas, ora grosseiros, e me deu uma tontura que não sei se foi causada pela vista embaçada (é muita palavra de ordem) ou se tem a ver com a minha labirintite, que me incomoda desde a era Itamar Franco.

Quem tem razão, afinal?

Olho para a Dilma e vejo uma mulher honesta, uma bandida, uma avó zelosa, uma ciclista, um pau-mandado, uma desastrada, bem-intencionada, 100% culpada. Viro a cabeça e enxergo Lula, o melhor presidente que este país já teve, o pior presidente que este país já teve, um homem ambicioso que ajudou os companheiros a enriquecerem, que fala a língua do povo, que diminuiu a desigualdade social, que atende as demandas do empresariado, um homem correto, um homem funesto, um hipócrita, um mártir, um touro furioso.

Sergio Moro, herói destemido ou um juiz vaidoso? Imparcial ou tendencioso?

Michel Temer, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Aécio Neves, Geraldo Alckmin: qual deles tem moral para apontar os erros de seus pares e assumir o comando? Se nenhum deles, quem estará apto?

Quanto custa um senador, quanto está valendo um delator, quem paga mais pelo silêncio de um denunciado, quem arca com os honorários de tantos advogados? Acabo de ver alguns empreiteiros e empresários correndo para aquele lado.

Nada está claro. Todas as acusações são rebatidas, todas as defesas questionadas, cada um de nós se transformou num magistrado e a minha labirintite piorou muito – alguém me alcance uma cadeira e me dê a mão, senão desabo.

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