domingo, 27 de março de 2016


21 de março de 2016 | N° 18478
ARTIGOS - NELSON JOBIM*

O AMANHÃ DE HOJE 


Dizer que há uma aguda crise política, que alimenta e é alimentada por uma crise econômica, é um “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues.

Discutem-se as interceptações telefônicas em que estão, de um lado, o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, além de outros.

No aspecto jurídico, duas indagações se apresentam. A primeira, sobre a legalidade das interceptações. Não só quanto ao seu deferimento e início, mas também quanto à suspensão.

Em relação a esta última, a questão circunscreve-se à modificação da competência judicial para o processo em que as interceptações foram autorizadas. O ex-presidente, como ministro de Estado, passou a ter foro privilegiado.

De outra parte, também no aspecto jurídico, tem-se a legalidade, ou não, do ato do juiz de liberar para a imprensa as fitas respectivas.

Isso propiciou toda a convulsão do dia 16 e os seus desdobramentos. A legalidade é matéria a ser examinada, discutida e decidida no Poder Judiciário e restrita à sua esfera de ação.

A segunda indagação diz com a consequência política do fato.

As consequências políticas independem do juízo jurídico que venha, eventualmente, a ser emitido pelo Poder Judiciário.

O reconhecimento da legalidade ou da ilegalidade das intercepções telefônicas e/ou da divulgação de seu conteúdo é irrelevante para a questão política.

Dr. Ulysses Guimarães, em situações análogas, após ouvir discussões sobre a legalidade ou ilegalidade de alguma conduta ou fato divulgado, dizia:

Senhores, estão vendo aquela cadeira?

Vejam, está nela sentado Sua Excelência O FATO.

Ele ocorreu e ponto.

O passado, agora, pede a resposta ao presente.

Vamos em frente.

É exatamente o que temos agora.

Legais ou ilegais as interceptações e/ou a divulgação, nada irá impedir suas consequências políticas.

Agravou-se a crise política.

O governo apela à experiência, à capacidade e à sensibilidade intuitiva do ex-presidente Lula para enfrentá-la.

A decisão do STF, do mesmo dia 16, encerrou a discussão sobre o rito do impeachment.

O presidente da Câmara dos Deputados decidiu instalar, desde logo, a Comissão Especial do Impeachment e marcou prazo para os líderes indicarem os nomes para sua composição.

O impeachment volta à ordem dia.

As posições políticas radicalizam-se.

O ódio recíproco permeia tudo. A economia oscila.

A recessão e o desemprego aumentam.

A superação impõe lucidez e racionalidade.

Há ou haverá espaço para tanto?

Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal*

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