07 de março de 2016 | N° 18466
EDITORIAL
OS ALVOS ERRADOS
Numa democracia, a evolução se dá pelo confronto de ideias – e não por ataques à liberdade de expressão ou concessões a teorias conspiratórias.
A estratégia de dirigentes petistas de se assumirem como vítimas depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido levado a prestar esclarecimentos sobre sua participação no esquema da Lava-Jato pode fazer algum sentido perante a militância, que tenta reagir à vertiginosa perda de credibilidade da sigla.
Mas, para os demais brasileiros, é apenas uma tentativa de desviar o foco da realidade. Não são a oposição nem a imprensa e muito menos a tal elite que estão perseguindo Lula e o PT: é, isto sim, a força-tarefa formada pelas principais instituições investigativas da República Judiciário, Ministério Público, Receita Federal e Polícia Federal que, democraticamente, apura responsabilidades no esquema de corrupção que dilapidou a Petrobras.
Entre os brasileiros que não se enquadram em radicalismos como os que voltaram a se registrar nas ruas, com manifestações agressivas, violências e pichações, a preocupação é outra: saber se, neste momento crucial para o futuro político e econômico do país, as investigações continuarão sendo republicanas e consequentes. Por mais frustrante que seja presenciar líderes políticos às voltas com todo tipo de denúncias, no Estado de direito ninguém está acima da lei.
Foi a estrita observância a esse princípio, independentemente da posição ocupada pelos investigados, que permitiu a condenação dos envolvidos no esquema do mensalão, também com raízes no fisiologismo. Depois de 13 anos no poder, sem nenhum movimento consistente na tentativa de conter essa fonte permanente de corrupção, as justificativas de líderes petistas já não convencem. Quando se coloca como vítima das elites, por exemplo, o ex-presidente não leva em conta que poucos dirigentes estiveram tão próximos das empreiteiras quanto ele.
E, quando critica a imprensa, passa a ideia, inconcebível e contraditória com o que sempre pregou, de preferir o silêncio diante de fatos sobre os quais não podem pairar dúvidas. Ainda que os governos petistas tenham promovido inegáveis avanços na área social, esse fato não justifica a perpetuação de um programa que, ao falhar na condução da economia e no controle da corrupção, vem colocando muitas dessas conquistas em risco.
É compreensível a controvérsia em torno da condução coercitiva do ex-presidente. Até mesmo juristas renomados e operadores da Justiça divergem sobre a questão. Mas não foi uma exceção: esse procedimento tem sido recorrente em operações da Polícia Federal e foi adotado na oitiva de suspeitos menos ilustres, sem maiores questionamentos. De qualquer maneira, o debate pode ser útil para o aperfeiçoamento futuro das investigações.
Numa democracia, a evolução se dá pelo confronto de ideias – e não por ataques à liberdade de expressão ou concessões a teorias conspiratórias.
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