quinta-feira, 3 de março de 2016


03 de março de 2016 | N° 18463 
L. F. VERISSIMO

Piadas


Não me lembro de muita coisa do filme. O título em inglês era The Candidate e o ator era o Robert Redford. Numa eleição para senador no Estado da Califórnia, o candidato republicano à reeleição é tão forte, que nenhum democrata quer ser seu adversário. O partido convence Robert Redford a concorrer. Como não há a menor possibilidade de derrotar o popular e corrupto republicano, Redford pode dizer o que quiser durante a campanha, aproveitando para criticar a influência do dinheiro na política e gozar dos políticos profissionais, como o seu supostamente imbatível oponente. 

E acontece o imprevisível: Redford ganha a eleição, para a surpresa de todo mundo, principalmente do seu próprio partido, que tomou seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto como um equívoco passageiro de pessoas que não tinham entendido a piada. A última cena do filme é a de um Redford, perplexo, perguntando ao seu gerente de campanha: “E agora?”.

O personagem de Redford no filme e o candidato a candidato do Partido Republicano nas próximas eleições presidenciais americanas, Donald Trump, não têm nada em comum, salvo o cabelo amarelo. Mas são duas piadas que chegaram mais longe do que alguém poderia imaginar. Esta não é a primeira vez que Trump se apresenta como candidato à presidência dos Estados Unidos, mas é a primeira vez que passa de uma opção ridícula a uma possibilidade clara. 

É difícil – agora já matematicamente – que não seja ele o candidato escolhido pela próxima convenção do seu partido. Foi o mais performático e saliente de uma trupe de concorrentes particularmente opacos e pode dizer tudo o que quiser. Está dizendo as barbaridades que sempre disse, só que hoje elas são o que muito mais gente está pensando. O conservadorismo responsável não conseguiu deter Trump enquanto era tempo. O ridículo também não. E agora?

OSCARS

Não entendi o Oscar para o Leonardo DiCaprio, que, no filme, passa tanto tempo sofrendo, que não tem tempo para atuar (deveriam ter dado o prêmio para a ursa), mas a Academia se saiu bem no que todos esperavam ver, sua reação às alegações de racismo, já que neste ano nenhum indicado para qualquer prêmio era afrodescendente. 

Optou pela autogozação, no que fez bem. Mas a melhor resposta que se viu foi a da presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, que falou sobre a importância da diversificação no cinema, mas não precisava ter dito nada. Ou foi uma ilusão de ótica minha, ou a sra. Isaacs é negra.


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