quarta-feira, 9 de março de 2016



09 de março de 2016 | N° 18468 
DAVID COIMBRA

William, o herói do Inter


Vi ontem que a cotovelada de William quebrou o rosto de Bolaños em duas partes: no maxilar e na face. Foi uma agressão violenta e intencional, cometida logo no começo do Gre-Nal de domingo passado.

William, evidentemente, tem de ser punido.

Mas esse tipo de lance, se não é exatamente comum, volta e meia acontece, no futebol. Acontecia mais, quando as arbitragens eram mais lenientes. Figueroa, o maior zagueiro que vi jogar, notabilizou-se por suas cotoveladas. Tarciso, então centroavante do Grêmio, e Palhinha, do Cruzeiro, sofreram, ambos, fraturas no nariz, devido à agudeza do cotovelo do zagueirão chileno.

Figueroa não negava que batia. Ao contrário, ensinava:

– Até os 10 minutos de jogo, pode dar soco no atacante: nenhum juiz expulsa.

Esse tipo de evento reprovável e, aliás, covarde diminuiu devido ao número de câmeras de TV, que hoje flagram qualquer lance de vários ângulos, à maior rigidez da arbitragem e à atuação mais firme da Justiça Desportiva.

Mas, como já disse, acontece.

Em campo, os jogadores estão exaltados com a partida e tudo se dá rápido demais. Uma decisão precipitada pode acabar em gol ou em uma agressão como essa de William em Bolaños. Quem já cobriu futebol profissionalmente sabe como os jogadores ficam em estado de excitação. Alguns não conseguem dormir depois de uma partida, mesmo quando ganham.

Já vi os jogadores mais pacíficos cometerem desatinos impensáveis. Leonardo protagonizou um lance parecido com o de William na Copa de 1994, Zidane deu uma cabeçada alucinada num zagueiro italiano na final da Copa de 2006, Taffarel perseguiu um atacante e cobriu-o de pontapés, Everaldo deu um soco em José Favilli Netto.

No calor da disputa é possível perder o controle. Com isso quero dizer que William não é nenhum monstro. Sua carreira deve e vai continuar, apesar desse erro.

O que não pode ocorrer de forma alguma é, depois da partida, quando os ânimos já devem estar arrefecidos, aqueles que pensam, ou que devem pensar, comportarem-se como se estivessem em campo, dividindo bola.

Ontem, o presidente do Inter, Vitorio Piffero, fez ironia a respeito da agressão, sugeriu que Bolaños pode ter quebrado o próprio maxilar sozinho e ainda disse que esperava desculpas do Grêmio. Para arrematar, o Inter colocou a foto de William no anúncio do jogo do próximo domingo. Ou seja: William, o agressor, o jogador que quebrou o queixo de um colega de profissão, tirando-o de seu trabalho talvez por dois meses, é o herói ungido do Inter.

É isso?

É assim que pensam os dirigentes do Inter, um clube mais que centenário, uma das maiores entidades esportivas do mundo?

É essa a mensagem que o Inter está passando para os seus jogadores, para a sua torcida, para os outros jogadores, para a comunidade? É vencer a qualquer custo, é tratar o adversário como inimigo, é mutilar um profissional em troco de alguma vantagem?

Não. Isso não é civilizado. Isso não é esporte. Isso não é o Inter.

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