Vinicius Torres Freire
02/03/2016 02h00
Lula lá, Dilma ali, ninguém aqui
Lula lavou as mãos ao deixar o PT bater em Dilma Rousseff com um programa econômico de oposição, entre outras injúrias e insultos na surdina. Lula tanto fritou que queimou Luiz Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, que seria "mole com a Polícia Federal". Contribuiu para tornar ainda mais críticos os dois piores problemas da presidente.
Mas os entornos luliano e dilmiano dizem que os dois devem se encontrar "nos próximos dias" para conversar. Enquanto Lula ajuda a atolar o governo, a paralisia da administração Dilma suscita conversas cada vez mais tensas sobre:
1) A influência que a perspectiva de crescimento descontrolado da dívida pública terá sobre o mercado, já agora; 2) O impacto da inadimplência crescente sobre bancos; 3) O impacto que prejuízos em alta e caixas em baixa terá sobre a cadeia de pagamentos entre empresas –quebradeiras.
Sobre qual assunto vão conversar os dois? Dilma Rousseff vai rasgar a fantasia curtinha e mal costurada de reformas que vestiu a contragosto neste segundo mandato e vai adotar a "nova política econômica" lançada pelo PT na sexta (isto é, "aprofundar" o programa de governo Lula, o que engloba Dilma 1)? A presidente vai "dar um jeito na PF"?
Na semana passada, Lula deu aval ao plano petista de derrotar o programa econômico que Dilma Rousseff pretende enviar ao Congresso. Ao derrubar o ministro da Justiça, Lula atiçou ainda mais a animosidade da Polícia Federal e contribuiu para disseminar a impressão de que foge da polícia e quer abafar o caso desses imóveis com tantos e nenhum dono.
Ou seja, Lula aumentou o tamanho das duas piores encrencas do governo Dilma: 1) O descrédito quase geral na capacidade e desejo da presidente de reverter a degradação econômica; 2) A incrível quantidade de rolos que envolve gentes do governo, o (suposto) partido do governo e chega muito perto da campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
Há uma fornada de escândalos novos para vazar. Virá um mês de delações dos executivos da Andrade Gutierrez. Deve vir o início das delações do pessoal da Odebrecht. A delação do empresário José Carlos Bumlai, o amigo do sítio. A delação do senador Delcídio Amaral. Os desdobramentos da prisão do publicitário João Santana. Isso, para ficar no essencial. Há mais.
Eduardo Cunha pode se tornar hoje réu, acusado de receber propinas do petrolão na Suíça. Mas até que seja deposto ou preso (ou mesmo assim) vai provocar o caos enquanto estrebucha.
No Congresso, discutem-se coisas como reestruturar "na marra" a dívida de Estados e municípios com o governo federal, o que seria um desastre terminal, uma demonstração de que Dilma Rousseff não tem poder algum no Parlamento e um estouro operístico do resto das contas públicas. Além do mais, senadores vão votando pelas bordas um programa anti-Dilma (mudança na lei do petróleo, lei da governança das estatais), prova de que a presidente é café com leite mesmo na casa em que, acredita, poderia ter votos para barrar seu impeachment.
Dilma Rousseff está sitiada por todos os lados e é solapada dentro de casa, por Lula e PT. Não compreende o tamanho da crise e tem menos e menos poder de domá-la.
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