terça-feira, 29 de março de 2016



29 de março de 2016 | N° 18485
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

Bodes expiatórios


“Os cristãos do Paquistão temem ser transformados em bodes expiatórios pelos fundamentalistas islâmicos se o conflito no Afeganistão se prolongar. Muitos emigram para escapar da onda de intolerância religiosa que cresce no país. Para a maioria, porém, a proteção de Deus e a capacidade das autoridades de controlar os extremistas são as únicas esperanças.” 

Assim começava reportagem enviada de Karachi por este colunista e publicada por Zero Hora sobre o ataque contra cristãos da província paquistanesa de Punjab. Não o de domingo, mas o de 28 de outubro de 2001. Quase 15 anos depois, a violência continua assombrando a ínfima minoria cristã do Paquistão, concentrada nas grandes cidades do sudeste do país.

Alguns dos cristãos paquistaneses de Lahore descendem dos conquistadores portugueses de Goa no século 16. A história da presença católica no subcontinente indiano está cheia de tragédias tão ou mais violentas do que a do Domingo de Páscoa. Conversões forçadas atingiram não apenas indianos hindus ou muçulmanos, mas judeus sefarditas refugiados da Inquisição. À barbárie do passado, soma-se agora a do presente, ambas atrozes.

O comunicado da seita que perpetrou o ataque de domingo contém um recado ao primeiro-ministro Nawaz Sharif, da Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N), oriundo de uma rica família de Lahore. “Queremos dizer ao governante LMP-N (o governador de Punjab, do mesmo partido de Sharif) e ao primeiro-ministro que aterrissamos no Punjab e que o alcançaremos”, afirmam os terroristas. Desnecessário lembrar que Sharif é tão muçulmano como a maioria dos paquistaneses. 

Os grupúsculos fundamentalistas, muitos deles com influentes padrinhos nas forças armadas, odeiam-no por sua falta de interesse em uma guerra total com a Índia pela Caxemira. E os cristãos, como há 15 anos, são o bode expiatório conveniente.

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