16 de março de 2016 | N° 18474
REPORTAGEM ESPECIAL
Desconfiança no mercado financeiro
A possível integração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministério de Dilma Rousseff, que, na prática, poderia a começar a dar as cartas no Planalto, foi mal recebida pelo mercado financeiro. A aversão à possibilidade levou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a ter queda de 3,56% e o dólar a subir 3,03%, para R$ 3,763.
Mesmo na Secretaria de Governo, a probabilidade de Lula assumir as rédeas da política econômica é vista com desconfiança pelos investidores devido à chance de uma guinada à esquerda, com o abandono do ajuste fiscal e adoção de iniciativas como aumento de oferta de crédito por meio de bancos oficiais em um momento de pouca demanda devido à recessão.
A economista Virene Matesco, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas, avalia que as medidas mais prováveis a serem adotadas sob a batuta de Lula não seriam capazes de reanimar a atividade:
– Lula não tem mais capital político para restaurar a confiança na economia.
Para Virene, ofertar mais crédito não funciona porque empresários e consumidores não estão propensos a investir ou gastar. O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada, avalia que medidas expansionistas, como o aumento do crédito, desvalorizariam o real e gerariam inflação.
– Não dá para replicar 2008. E o preço do erro será maior – avisa.
Favorável ao uso das reservas internacionais para elevar o investimento público, o professor do Instituto de Economia da Unicamp Guilherme Santos Mello avalia que Lula deve adotar medidas que agradassem tanto a esquerda, como tributação progressiva para mais ricos e uma proposta de reforma da Previdência mais branda, quanto saídas que seriam aceitas pelo PMDB, teoricamente principal aliado, como algum controle de gastos.
– Lula vai tentar conciliar essas propostas para conseguir costurar um acordo possível – diz Mello, lembrando que a dificuldade da estabilização política será a continuidade das revelações da Lava-Jato.
Segundo o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, a volatilidade do mercado financeiro reflete a incerteza política, alimentada pelos rumores de que Lula poderá voltar a ter uma influência no governo federal e tentar salvar o mandato de Dilma. O movimento teria o poder de, ao menos, retardar o processo de impeachment.
caio.cigana@zerohora.com.br
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