domingo, 27 de março de 2016



19 de março de 2016 | N° 18477 
MARTHA MEDEIROS

A verdadeira virilidade

Que todos nós temos um lado masculino e um lado feminino, acho que não há o que discutir, mesmo que a ideia não agrade a alguns. Alguns homens, claro.


Outro dia, conversava com duas amigas sobre essa questão. Nós três somos mulheres eloquentes, determinadas, independentes e nem por isto desprovidas de doçura e feminilidade. O fato de termos algumas virtudes associadas ao padrão masculino de comportamento não gera em nós qualquer espécie de desconforto, ao contrário: só nos faz sentir mais interessantes. A tranquilidade é tamanha que, se alguém associasse nosso lado racional a alguma inclinação homossexual, receberíamos essa hipótese descabida com um sorriso absolutamente relaxado. 

Mulher não se preocupa com o que os outros pensam sobre sua sexualidade. Ela sabe quem é e do que gosta. Não precisa evitar os abraços calorosos nas amigas, nem as declarações de amor mútuas que costumamos fazer umas às outras. Manifestamos naturalmente nosso afeto sem nenhum motivo para autocontrole. Temos coisas bem mais importantes com o que nos preocupar.

Bem diferente do que acontece entre alguns homens. Nós três, durante o jantar, lembramos com um carinho quase maternal de alguns exemplares XY que fazem questão de afirmar sua macheza constantemente, como se alguém estivesse desconfiando de alguma coisa. Eles nem cogitam conviver amistosamente com a ideia de ter um lado feminino – que obviamente todo homem tem, em maior ou menor grau. 

Para muitos deles, essa dualidade é algo bem assustador. Uma pena, porque a homofobia está bastante associada ao medo latente de que os outros confundam quem eles são. Se não ficassem obcecados em demonstrar que têm uma identidade sexual acima de qualquer suspeita, não precisariam ficar agredindo quem é diferente deles.

Eu ainda era uma adolescente quando Pepeu Gomes compôs: “Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino”, enquanto Gilberto Gil corroborava: “Vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria”. Claro que os brucutus se apressaram em rotulá-los de bichas para liquidar o assunto, mas os homens antenados e inteligentes não se estressaram, captaram a mensagem e hoje estão unidos a nós na defesa de uma sociedade menos homofóbica, menos careta, menos provinciana. É justamente a porção feminina que eles têm (e que em nada ameaça sua virilidade) que faz com que não fiquem irritadinhos à toa e que também tenham mais com o que se preocupar.

Nenhum comentário: