domingo, 27 de março de 2016



22 de março de 2016 | N° 18479 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

PARA OUVIR


Quando você chegou a tudo transformou. Chegou tranquilamente – quase levitei, como se fosse leve tudo ao meu redor, como se fosse algo que nunca perdi, como se tivéssemos nos escondido. Hoje você está aqui, para sempre está.

Este é o Carlos Badia, trecho da letra da Filho, uma linda canção, doce, um acalanto em forma de balada, uma saudação a quem chega neste mundo estranho. É uma faixa de um dos dois discos publicados juntos no projeto Zeros – um de músicas sem letra, outro de canções. Tudo elegante, muita variedade de estilos, sempre agradável ao ouvido, uma companhia de qualidade que nunca subestima o ouvinte.

A lei é cega, cega que tão bem enxerga quando lhe convém. A lei não quer ver, serve a quem melhor lhe paga, para o mal e o bem, e sobe o seu altar para ser só letra morta que se apaga com tum tiro à queima-roupa.

Agora é o Nei Lisboa, cantando A Lei, que não se refere ao juiz Moro ou a qualquer outro, porque se dirige ao ar geral que respiramos, de vez em quando sufocante, logo ali, espero, agradável. O disco tem nome longo e faz tropeçar um pouco, Telas, Tramas & Trapaças do Novo Mundo. Gravado ao vivo, com energia e aquele violão baladeiro que a gente acostumou a ouvir ao fundo da voz e das sempre inteligentes letras do Nei.

A paz não é uma pomba. A paz não está no esquife, nem na tumba, nem no além, nem no credo, nem no amém, na aposta ou no cacife: a paz não é uma grife ou um logotipo eficiente. Paz será paz plenamente quando for a paz comum de todos e cada um.

E este é o Richard Serraria, numa das canções performáticas do eletrizante cd/projeto Bataclã FC & Mastigadores de Poesia. Tem música e tem mastigação – um conceito novo, ou uma imagem nova, para a tarefa estranha de dizer poesia.

Três projetos musicais e poéticos com capacidade de ajudar a atravessar esse trechinho estranho da vida brasileira. E tenho dito.

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