28 de março de 2016 | N° 18484
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA
O ESTRANHO MUNDO NORMAL DE FARGO
Eu demorei para ver Fargo, a série, por gostar tanto de Fargo, o filme, obra-prima dos irmãos Coen lá de 1996. Eu tinha medo do que iria acontecer comigo, do que a série poderia fazer para atrapalhar as minhas memórias do filme. O que série e filme têm em comum é o cenário, a gelada planície norte-americana do Minnesota, North Dakota e cercanias, onde as pessoas passam boa parte do ano em uma paisagem tão animada quanto a da Lua, nos bons momentos.
De onde nada se espera, saem muitas coisas, é o que Fargo, série e filme, nos provam. De pessoas normais, com vidas normais em um território desprovido de emoções, se pode esperar tudo.
Em Fargo, na primeira temporada, essa estranheza é definida por Billy Bob Thornton, no papel de Lorne Marlo, um estranho pela própria natureza, um anjo vingador que produz o mal com a facilidade com que lavamos a roupa. Ele repassa sua maldade para Lester Nygaard, um pobre coitado que cansa de ser pobre coitado e vira o super-homem, infelizmente na sua versão bizarro.
Do lado do bem, como sempre, uma policial que se recusa a aceitar o crime ou o mal como inevitáveis e que sequer os compreende. Dessa dicotomia entre o bem e o mal, ambos tão absolutos quanto o clima polar em que ocorrem, vive Fargo.
As obras dos irmãos Coen têm esse componente que os americanos chamam de zany, ou algo que chega a ser cômico simplesmente por ser tão estranho. Fargo é zany, entre muitas outras coisas. Entre elas, Fargo é brilhantemente executada, belíssima em suas imagens, e impecável em sua descrição dessa maluquice generalizada também conhecida como natureza humana.
Fargo está na categoria pelamoededeusvejam. Portanto, vejam.
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