sexta-feira, 11 de março de 2016



11 de março de 2016 | N° 18470 
NÍLSON SOUZA

DO BIP AO BIT


Dia desses, quando me preparava para a caminhada matinal, percebi que o celular estava ficando sem bateria e avisei minha mulher de que durante uma hora e 20 minutos ficaria sem conexão com o mundo. Acordo antes do sol. Às seis da matina, já estou no calçadão de Ipanema, competindo com os pássaros que disputam as oferendas para Mãe Oxum. Antes que minha sonolenta companheira comentasse qualquer coisa, acrescentei:

– Qualquer coisa, me bipa!

Só no café da manhã, bem mais tarde, ela me questionou sobre a frase. Era uma brincadeira. Na verdade, nunca usei um bip, que era coisa de gente bem mais importante. Médicos, principalmente, e altos executivos o usavam. Era um aparelhinho que prendiam ao cinto e que apitava sempre que alguém queria localizá-los.

Funcionava assim: a pessoa ligava para um centro de controle, pedia para localizar o portador do equipamento e deixava seu número; a central mandava um sinal de rádio ao destinatário e o aparelhinho emitia repetidas vezes um barulho tão incômodo, que dava vontade de dar uma martelada nele. Claro, dava para desligar, mas os portadores só costumavam fazê-lo depois de todos os circunstantes perceberem sua importância. O bip dava status. Então, o bipado tinha que procurar um telefone para ligar à central e pegar o número do solicitante, para só então falar com ele. Tempos pré-históricos da comunicação.

O bip deu lugar ao pager, que acabou sendo substituído pelo telefone móvel, precursor dos nossos celulares e iPhones, que não nos deixam mais em paz. Quando cobri a Copa da Espanha, em 1982 – logo ali atrás –, conheci o telefone móvel em automóvel, então uma novidade para os brasileiros. O grupo do qual eu fazia parte alugou um carro com o equipamento. Era um trambolho localizado entre os bancos (acho que fabricado pela empresa americana Motorola), que carregamos durante as três semanas de Mundial sem fazer uma única ligação, pois os preços das chamadas eram proibitivos.

Aí, veio o bit, e a comunicação interpessoal ficou tão fácil, popular e barata, que essas histórias parecem ficção. Mas tem quem possa comprovar.

Qualquer dúvida, me bipa!

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