quinta-feira, 31 de março de 2016



31 de março de 2016 | N° 18487 
MÁRIO CORSO

Trocando de signo


Nunca me senti à vontade no meu signo. Talvez por estar nele de uma forma intensa, dupla: Peixes ascendente em Peixes. Água com água, e, segundo essa conjunção, eu seria fluido, intuitivo, empático, místico e desapegado. Cheguei a desconfiar dos dados que meus pais me forneceram, até a possibilidade de ser adotado me passou pela cabeça. Mas as testemunhas são muitas. De fato, sou duplamente Peixes, embora não goste nem me reconheça.

Lendo, pesquisando, fazendo mapas, fui me informando aqui e ali e me descobri de Capricórnio. Um dia pensei: não tenho por que viver numa mentira. Basta da ditadura astrológica do meu nascimento, vou assumir-me como capricorniano. Troquei o dia em que festejo meu aniversário e passei a me apresentar como Capricórnio ascendente em Peixes. Algo de Peixes acreditei melhor manter.

Foi difícil e sofrido deixar para trás minha antiga identidade pisciana. Baixou minha sensibilidade para arte, a empatia para com os outros, algumas pessoas se afastaram de mim. Mas valeu cada árduo dia da adaptação, no ano seguinte me sentia diferente, livre, e melhor de tudo: determinado. Embora tenha tido anos felizes como capricorniano, especialmente no casamento e no trabalho – o capricorniano tem um autocontrole e uma determinação invejáveis –, um dia me dei conta de que esse signo tampouco respondia a meus anseios.

Primeiro pensei em voltar, mas depois me lembrei das razões de meu divórcio. Foram muitos anos decepcionantes como Peixes. Eu não podia retornar àquela vida de indecisão, procrastinação e falta de atitude mais concreta para com o mundo. Precisava seguir em frente, e quem já fez uma revolução faz outra.

Durante anos namorava a ideia de ser Leão. Observava o garbo dos leoninos com respeito, gostava de suas atitudes. Pensei: por que não posso ter isso para mim? Dito e feito, Leão foi o signo da minha maturidade. Dessa vez, abandonei o resto de Peixes, escolhi Touro para ascendente, pois me sinto melhor com algo de terra. Foi uma decisão sábia, meus melhores anos foram como leonino. Mas, infelizmente, tudo que é bom um dia acaba. Sem ressentimento, sem acusações, nada contra o signo de Leão, sou grato a ele como antes fui ao de Capricórnio, apenas já não sinto a mesma coisa por eles.

Estou à deriva de novo, busco um signo que me represente. Leio e me informo, mas nada parece me traduzir. Minha astróloga, Mayara, especialista em transmigração astral, já não me aguenta. Mas não desisto, deve haver um cruzamento zodiacal que me espelhe. Tenho algumas esperanças no 13º signo, o rebelde e enigmático Serpentário, que poucos astrólogos levam em conta. Quem sabe esse signo entre Sagitário e Escorpião me exprima, estou estudando...

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