24 de março de 2016 | N° 18481
DAVID COIMBRA
Os perigos da lista
Calma! Nada de ansiedade nesta hora de peles eriçadas e respirações suspensas.
A decisão do ministro Teori, de resguardar o sigilo da gravação envolvendo Dilma, não é ruim para a Lava-Jato, esse evento que, todos sabemos, é o mais importante para o país, depois do Plano Real.
Ao contrário. É ótima.
Em primeiro lugar porque, mesmo que a divulgação da gravação seja de relevância pública, Moro errou ao não consultar o STF antes de liberá-la.
Em segundo porque, com sua decisão, Teori acaba com as teorias persecutórias dos governistas. Teori demonstrou que a democracia brasileira não corre nenhum risco devido às investigações da Lava-Jato, que a soberania nacional não está em perigo e que as instâncias superiores da Justiça não se sentem acovardadas pela República de Curitiba.
Ou seja: está tudo correndo normalmente. Não existe essa história de golpe, e o tão citado Estado democrático de direito não sofre a menor ameaça. Se Dilma cair, será por meios constitucionais. Se continuar no cargo, idem.
Moro é ótimo juiz e está fazendo ótimo trabalho, mas é jovem e, como todo jovem, às vezes se torna afoito. Foi afoito no caso da ligação envolvendo a presidente da República.
O método de Moro, porém, tem sido o mesmo desde o começo. Há dois anos que ele autoriza conduções coercitivas, prisões preventivas e publicação do conteúdo das investigações. Para ele, tudo que é de interesse público tem de ser publicado. É uma escola do Direito.
Você pode concordar ou não com ele, mas o fato é que seu critério não mudou: ele está agindo com políticos da mesma forma que agiu com empresários, doleiros e assalariados comuns, como eu e você.
Acontece que agora a investigação chegou ao seu ponto nevrálgico: a política. E a política, como qualquer ponto nevrálgico, dói.
Um político é diferente de qualquer um de nós. Um político ganha votos. Ou seja: as pessoas estão depositando confiança nele. Um político lida com dinheiro público, com interesses públicos, e por isso sua conduta é também de interesse público.
Mas um político não tem só eleitores a cobrá-lo. Cada político é um líder, inclusive aquele verdureiro que se elegeu vereador no seu bairro. Cada político tem apoiadores, seguidores, às vezes devotos. Nos diálogos gravados de Lula, esses devotos despejam-se às catadupas. O ministro Jaques Wagner se oferece para carregar a pasta de seu amado chefe, e Lindbergh Farias chegou a dizer:
– Nós adoramos o senhor!
Ao lado do arfante Lindbergh estava Jandira Feghali, aquela deputada com cara de cartomante que protagonizou uma das cenas mais hilárias de toda essa história – depois de Lula ter sido levado a depor, ela foi fazer um vídeo bajulando-o e começou:
– O presidente está calmo, está sereno...
E, atrás, Lula esbravejava ao telefone, dizendo para Dilma que queria que a Justiça enfiasse o processo contra ele por entre um dos nove orifícios do corpo humano.
Que momento da República.
Mas o que interessa, por ora, é que qualquer político sempre contará com defensores ardorosos, gente que acredita mesmo nele ou quer ou precisa acreditar. Logo, esta etapa das investigações é muitíssimo mais sensível.
Ontem, 200 nomes de políticos de 18 partidos explodiram em público, na divulgação da lista de contribuições da Odebrecht. Sabe-se que vários receberam do caixa 2, mas outros tantos não. Por esses, pelos honestos, é preciso ter cuidado. Saber do comportamento público dos homens públicos é importante, é direito do cidadão. Mas saber o que fazer com essa informação é mais importante ainda.
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