02 de março de 2016 | N° 18462
DAVID COIMBRA
O vestido de Charlize
Acho que amo Charlize Theron.
Você me chamará de volúvel, lembrará que, não faz nem três dias, declarei de público meu amor por Gabriela Pugliesi. Mas é assim mesmo. A fila anda.
Você viu Charlize na cerimônia do Oscar? Jesus amado. Ela surgiu levitando dentro de um vestido longo vermelho de rainha malvada. Ainda é “longuinho” que se chama? Seja.
O longuinho era rasgado por um decote que descia em V até o polo sul do umbigo de Charlize. Fiquei observando aquele umbigo, para tentar encontrar funflas.
A funfla, segundo o Verissimo, é a sujeirinha do umbigo. Não é impossível que o umbigo de Charlize tenha funflas. Li, certa feita, que ela não é adepta de banhos. Deve ser mentira. Muitas mulheres certamente invejam Charlize. E, puxa, ela parece tão... impoluta...
No Oscar, Charlize apareceu ao lado de outra atriz, Emily Blunt, que até é bem bonita, desde que não esteja ao lado de Charlize. Não deviam ter feito isso com Emily. Perto de Charlize, ela parecia o Batatinha.
Fiquei pensando em Charlize e seu longuinho por causa de um protesto que as mulheres fizeram no Oscar do ano passado. Os atores americanos adoram fazer protesto no Oscar. Neste ano, você sabe, os negros reclamaram que só brancos haviam sido indicados. Na década de 1970, Marlon Brando recusou o prêmio e mandou uma índia para discursar em seu lugar. Brando queria mais índios nos filmes.
Pois em 2015 as mulheres exigiram que os repórteres não perguntassem sobre as roupas que estavam usando. Cada coisa... Ao ver Charlize caminhando como se mal tocasse o chão, compreendi como essa reivindicação é injusta. Uma mulher se veste como Charlize se vestiu, passa o dia inteiro se maquiando com critério para fazer o que os americanos chamam de “smokey eyes”, surge num vestido mais caro do que o vinho do Lula, e aí ninguém olha nem comenta nada. Que falta de sensibilidade!
Perguntas sobre a vida profissional? Quem se interessa por isso, olhando para Charlize? Vá perguntar sobre a vida profissional para aquela mulher que ganhou o Oscar de melhor figurino. Você viu? Ela foi receber o Oscar com a mesma roupa com que comprou massa de tomate no súper. Deve ter deixado as sacolas na porta de entrada.
O que estou dizendo é que a aparência também tem a sua importância. Certamente não é o mais importante, mas é importante.
Agora, fim de semana passado, um amigo americano disse achar estranho a vaidade ser considerada mérito, no Brasil. De acordo com ele, aqui, na Nova Inglaterra, uma pessoa por demais vaidosa passa a impressão de que pretende se colocar acima dos valores da comunidade. Isso explica o que vejo nas ruas: eles se vestem com o primeiro pano que encontraram pela frente, de manhã. Vez em quando, vejo uns de pijama até dentro do trem.
Mas note como isso demonstra, exatamente, a importância da aparência. O relaxamento dos americanos da Nova Inglaterra com o vestuário também tem seu significado.
Se você vai à cerimônia do Oscar vestido como se estivesse atendendo na quitanda, como aquela mulher que, por ironia, ganhou o prêmio de melhor figurino, quando você faz isso, você desrespeita as pessoas que vão homenageá-lo. É falta de educação. E uma rebeldia adolescente.
Isso vale para o Oscar, para a igreja, para a escola, para o trabalho e até para a casa da mãe. Charlize estava certa. A tal do figurino, errada. Viva a elegância. Viva o movimento “Vai ter longuinho, sim!”.
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