14 de março de 2016 | N° 18472
EDITORIAL
UM PASSO A MAIS PARA O IMPEACHMENT
As multidões que vestiram verde e amarelo manifestaram-se inequivocamente contra a permanência da presidente Dilma Rousseff no comando do país.
Independentemente dos cálculos sobre a quantidade de pessoas que participaram diretamente das manifestações de ontem em centenas de cidades brasileiras, incluindo todas as capitais, não pode haver dúvida de que foi a indignação com a corrupção e com os erros do governo que encheu as ruas e praças do país. As multidões que vestiram verde e amarelo para protestar neste segundo domingo de março manifestaram-se inequivocamente contra a permanência da presidente Dilma Rousseff no comando do país, contra a hegemonia do PT e de seus aliados na política nacional e a favor do juiz Sergio Moro e da Operação Lava-Jato.
Foi, acima de tudo, um aval explícito e sonoro de parcela da população brasileira para o processo de impeachment que já está em andamento no Congresso e que terá seu rito definido pelo Supremo Tribunal Federal ainda nesta semana. A manifestação de ontem, somada à posição adotada pelo PMDB na convenção nacional do último sábado, fragiliza ainda mais o apoio da presidente no Congresso Nacional. O partido do vice- presidente Michel Temer, como se sabe, proibiu seus filiados de assumirem novos cargos no governo nos próximos 30 dias e decidiu adotar uma posição de independência no parlamento, enquanto decide se rompe ou não com o governo.
O impasse político é grave e delicado. Embora o Congresso seja extremamente sensível à pressão popular, não há como ignorar que pelo menos 22 deputados e 12 senadores já foram denunciados pelo procurador-geral da República como beneficiários das irregularidades apuradas na Operação Lava- Jato. Além disso, é preciso considerar que os substitutos imediatos da presidente, em caso de afastamento, seriam seu vice – que também pode ser cassado junto com ela pelo Tribunal Superior Eleitoral – ou o encrencado presidente da Câmara – igualmente alvo de processo de cassação.
Mas os problemas da democracia sempre podem ser resolvidos com mais democracia. Assim como as manifestações de ontem foram realizadas de forma ordeira e pacífica, também há espaço para a busca de soluções constitucionais para a crise. Ainda que, pelas pesquisas, o impeachment presidencial seja a vontade da maioria da população, caberá à parte sadia do Congresso e ao Judiciário zelar pela legitimidade do processo e pela integridade da Constituição.
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