terça-feira, 8 de março de 2016



08 de março de 2016 | N° 18467 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

FÁBULAS

Comparações históricas são sempre arriscadas mas são o que vale a pena fazer, quando se quer entender conexões e longas durações não óbvias.

Eu não era nascido quando Getúlio se matou, mas sei bem o que aconteceu depois. Ele era acusado de nadar num mar de lama, onde bracejavam assessores e coisa e tal. Eu já respirava neste planeta quando Jango foi derrubado, mas era um piá sem condições de entender blicas. Ele também era acusado de se locupletar, ou de deixar que se locupletassem.

Getúlio teve a coragem extrema de se matar por assim dizer em praça pública, revertendo na hora o jogo da sempre volúvel opinião pública – aquela que, disse Nelson Rodrigues, é débil mental, tanto que, em momento agudo bem conhecido, mandou soltar Barrabás e prender o outro aquele, Jesus. Jango engoliu em seco e, para o bem e para o mal, deixou correr o golpe, que começou como uma quartelada lamentável e seguiu como se sabe, por 21 anos.

De Getúlio e de Jango o tempo parece ter-se encarregado de mostrar que não eram corruptos, e que, se conviveram com corrupção, não estiveram isolados nisso – nem eles, nem FHC, por exemplo, bastando lembrar, se quisermos um e apenas um exemplo eloquente, o caso da compra de votos para a reeleição dele. (Se o prezado leitor duvida de mim, acredite em Fernando Rodrigues, blogueiro do UOL: zhora.co/frodrigues.) O tempo provou isso, sem margem a dúvidas, mas já longe da mão e do interesse da Justiça, que está acima de muita coisa mas escolhe alvos.

Esta semana, soube, por um excelente e ainda inédito artigo de Gunter Axt, de parte obscura da história de Ruy Barbosa, sim, o mesmo que sempre é citado como impoluto: pois ele, sendo ministro da Fazenda e tendo ele próprio designado o banco Mayrink como emissor de papel- moeda, na farra do Encilhamento, ganhou do mesmíssimo banco uma esplêndida mansão enquanto ainda estava no poder, e assim que saiu do governo foi empregado, adivinha?, no banco Mayrink.

Alguns desses personagens, justamente os que perdem a batalha da opinião pública, são depostos, ou comem o pão amassado pelo dianho, ao passo que outros, limpos e cheirosos, passam à história como modelos de virtudes. O senhor me diz aí: como assim?

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