domingo, 27 de março de 2016



17 de março de 2016 | N° 18475 
L. F. VERISSIMO

Uma solução


Discute-se uma saída constitucional para a crise política brasileira e já foi proposto um semipresidencialismo, ou até um semiparlamentarismo com a atual presidente promovida a rainha, para fins puramente protocolares e ornamentais. Me lembrei da notícia que li, há alguns anos, sobre a descoberta, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, de um pelo pubiano de Dom Pedro I. Não sei se era brincadeira ou verdade, o fato é que não se falou mais no assunto. Na época, escrevi uma crônica a respeito da descoberta com uma sugestão sobre o que fazer com ela. Repito a crônica como minha contribuição para a reforma do regime de governo sendo discutida, e para acalmar os ânimos.

Presumivelmente, o pelo pubiano tinha sido usado para marcar o lugar num livro, não se sabe se por ele ou por alguma admiradora. De qualquer maneira, era um pentelho imperial. Pesquisas com reconstituição genética indicam que já é possível remontar um organismo inteiro a partir de uma única célula. Alguma célula do púbis de Dom Pedro deveria se encontrar na raiz do pelo providencial – contanto, claro, que a relíquia tivesse sido bem preservada.

Monarquistas poderiam muito bem acenar com a possibilidade de restituição não apenas da monarquia, mas do nosso primeiro monarca, o que – junto com alguns votos comprados, como manda a tradição brasileira – inspiraria o Congresso a aprovar uma mudança do regime. Quem resistiria ao apelo publicitário da volta ao poder do proclamador da nossa Independência, um currículo que nenhum outro pretendente poderia igualar, ou criticar?

A infância, a educação e a preparação de Dom Pedro – ou do Pentelho Primeiro, como ele fatalmente seria conhecido – para o cargo seriam acompanhadas pela nação enternecida, e depois, se o clone tivesse metade da personalidade fogosa da matriz, suas aventuras seriam o assunto da corte e o divertimento do país. E não estaria afastada a hipótese de um eventual casamento dele com uma plebeia ou uma moça da nossa aristocracia, na catedral de Brasília, ou numa cerimônia privada em Petrópolis.

Dom Pedro de volta seria a solução para o Brasil. Não seria preciso me recompensar por ter tido a ideia, salvo, talvez, com a embaixada em Paris.

Mas acabo de me dar conta de que, como o clone necessitaria de tempo para ser gerado e crescer, precisaríamos de uma regência provisória até ele atingir a maioridade, com 18 anos e já com suas costeletas. O PMDB, claro, reivindicaria o cargo, o Aécio Neves não se conformaria em não ser o escolhido e a guerra política reiniciaria.

Esquece, esquece.

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