05 de março de 2016 | N° 18465
TOUJOURS PARIS | Fernando Eichenberg
EFEITO DOS ATENTADOS: CHECK-OUT
Paris ainda sente em suas ruas e bulevares ecos dos mortíferos ataques terroristas de 7 de janeiro e 13 de novembro de 2015. Não somente pela intensificação das revistas em portas de lojas e em entradas de metrôs e da ostensiva presença do policiamento civil e militar na permanente ameaça de novos atentados. Com 46 milhões de visitantes anuais, a cidade foi afetada por uma brusca queda do turismo (responsável por 7,4% do P IB do país), que perdura neste início de ano.
O índice de ocupação dos hotéis na região parisiense caiu em média 20%, e em até mais de 50% no caso dos grandes palaces da capital. O impacto atingiu também os principais monumentos e museus. Em 2015, o Louvre registrou uma diminuição de sua frequência de 4,8% em relação ao ano anterior. Os índices negativos foram de 3,6% para o Palácio de Versalhes e de 2,6% para a Torre Eiffel. Vizinhos europeus também desertaram a capital francesa: 37% para os russos, 17,3% para os italianos, 9,6% para os holandeses e 7,9% para os alemães. No caso dos japoneses, a queda foi de 22%, o que justificou a viagem da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, a Tóquio na semana passada.
– É importante explicar que os parisienses continuam a sair, que aproveitam a noite, que os teatros estão abertos, que eventos culturais e festivos ocorrem no espaço público. O dispositivo de segurança, necessário e útil, é muitas vezes incompreendido no Exterior – disse a prefeita, referindo-se a “fantasias” sobre a existência de um toque de recolher.
O brasileiro Marcos Martins, um dos sócios da agência de turismo Boulevard Paris, comprova as dificuldades no setor:
– Caiu muito. Todos os nossos clientes, sem exceção, perguntam sobre as questões de segurança. E no caso do Brasil, a situação agravou-se com a forte desvalorização da moeda em relação ao euro.
Nova York levou cerca de quatro anos para recuperar seu nível de turismo após a tragédia das Torres Gêmeas, em 2001. Paris aposta na Eurocopa 2016, em junho e julho, para começar a retomar seu brilho turístico de Cidade-Luz.
A NOITE DO CÉSAR NO FOUQUET’S
Instalado desde 1899 na esquina das avenidas de Champs-Élysées e George V, o Fouquet’s se tornou um endereço emblemático da capital francesa, local de encontro do Tout-Paris. Entre os habitués de suas mesas ao longo dos anos, figuraram nomes estrelados como os de Maurice Chevalier, Georges Simenon, Marlene Dietrich, Orson Welles, Joséphine Baker, Édith Piaf, Charles Aznavour, Jeanne Moreau, Alain Delon, François Truffaut, Jean-Luc Godard e também, no início do século passado, do nosso “pai da aviação” Santos Dumont, que residia nos arredores. No clássico filme francês A Grande Ilusão (1937), de Jean Renoir, que se passa num campo de prisioneiros na Alemanha durante a I Guerra Mundial, o personagem do capitão Boëldieu elogia o conhaque de seu companheiro de cativeiro, Rosenthal, que replica: “Foi o barman do Fouquet’s que me enviou num vidro de líquido dentifrício”.
Não por acaso, em 1988, o restaurante – que hoje conta também com um hotel de luxo –, foi tombado como monumento histórico, e há décadas acolhe o prestigioso jantar de gala pós-premiação do César, o Oscar francês, tradicionalmente organizado no final de fevereiro no Théâtre du Châtelet – uma celebração de aldeia se comparada à repercussão planetária do evento de Los Angeles.
O espectador acidental do cinema francês talvez não conheça os vencedores deste ano das estatuetas de melhor atriz (Catherine Frot) e ator (Vincent Lindon); a maioria talvez nem tenha ouvido falar do melhor filme eleito, Fatima, de Philippe Faucon – e tampouco do melhor documentário, Demain, dirigido por Mélanie Laurent e Cyril Dion, uma amostragem de inovadoras experiências de vida positivas pelo mundo que se tornou um fenômeno no país, assistido por quase 1 milhão de pessoas e muitas vezes aplaudido após as sessões.
Na festa do cinema no Fouquet’s, o menu para 750 comensais foi elaborado pelo estrelado chef Pierre Gagnaire. A atriz Juliette Binoche, que cedeu seu belo rosto para ilustrar o cartaz da 41ª edição do prêmio, ocupava a mesa principal ao lado de Michael Douglas, personalidade estrangeira homenageada da noite. Os talheres só foram cruzados depois das 3h. O cinema no país resiste assumido como uma exceção cultural. A França possui a maior rede de salas de cinema da Europa, e também o índice de frequência mais elevado. Em 2015, pelo segundo ano consecutivo, os filmes atraíram mais de 200 milhões de espectadores.
PAROLES
“Este foi meu grande erro. Não percebi o peso simbólico deste lugar e não me justifiquei em tempo."
Nicolas Sarkozy,
ao fazer um mea culpa em seu recém-lançado livro “La France pour la vie” por ter comemorado sua vitória na eleição presidencial de 2007 com um grande jantar no restaurante Fouquet’s, atitude bastante criticada na época pelo luxo do local escolhido na avenida de Champs-Elysées.
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