sexta-feira, 11 de março de 2016



11 de março de 2016 | N° 18470 
DAVID COIMBRA

Precisa tanto dinheiro?


Certas frases repito para meu filho desde seus tempos de pocolino. Mesmo que não entenda exatamente o significado, perpassa o sentido e, quando ele for maior, irá se lembrar e talvez conclua: “O velho estava certo...”.

Uma das frases que lhe digo sempre é que as coisas importantes da vida o dinheiro não compra.

O dinheiro é bem-vindo e até fundamental, óbvio, mas o amor, a amizade, a lealdade, a saúde, a paz de espírito, o equilíbrio, a alegria, nada disso é comprado com dinheiro. E o que há de mais precioso?

O dinheiro tem tanto prestígio entre os homens devido ao prestígio do prazer. As pessoas confundem prazer com felicidade. É um equívoco. Prazer em demasia é infelicidade na certa.

Alguém pode observar que essa é uma característica do capitalismo. Não é bem assim. Ninguém acredita mais no poder do dinheiro do que um socialista. Para o socialista, se todos forem iguais economicamente, todos serão felizes. Trata-se de uma tolice lustrosa.

Lula, por exemplo, vive a se jactar de que seu governo permitiu aos pobres adquirir carro, ir a restaurantes e viajar de avião. São bens materiais. Bens que você perde numa única crise econômica, como a de agora. Um filho numa ótima escola pública e segurança nas ruas são bens intangíveis, mas muito mais valiosos e duráveis.

Um homem que gosta muito de dinheiro em geral é um homem pouco confiável. Na política, é perigoso. Porque a política lida com o dinheiro público, que, muitas vezes, em vez de ser tratado como dinheiro de todos, é tratado como dinheiro de ninguém.

Não que todos os políticos tenham de ser como Olívio Dutra e Pepe Mujica. Esses são exceções entre os homens em geral, não apenas entre os políticos. Mujica vive numa chácara mínima, desloca-se num Fusca azul-calcinha e afaga um cachorro com três pernas. Dia desses estava vendo duas moças turcas comentando sobre Mujica, e o que mais as encantava era esse último detalhe. Elas suspiravam:

– Ele tem um cachorro com três pernas... Se a Turquia tivesse um político assim...

Já Olívio mora no mesmo apartamento de seus tempos de bancário, na Assis Brasil, e anda de lotação, onde às vezes é assaltado.

Ambos, no entanto, são homens cultos, lidos e sofisticados intelectualmente.

Lula não é culto, não é lido, não é sofisticado intelectualmente, e se orgulha disso. Ele faz piada com a própria ignorância.

Mas falta de lustro cultural não significa despojamento. Lula parece precisar mais de dinheiro do que Olívio e Mujica. Sua empresa de palestras e seu instituto amealharam, juntos, R$ 56 milhões em quatro anos, a maior parte desta soma egressa de grandes empreiteiras. E, ainda assim, essas mesmas empreiteiras lhe prestaram favores quase mesquinhos, como pagamento de reformas e estoque de bens. Precisava?

Outros pares de Lula sentem igual necessidade. Alguém fala em Cunha, Renan, Pimentel, PP, PSDB e quejandos e você quase pode ouvir o tilintar das máquinas registradoras. As operações da PF citam milhões, centenas de milhões, bilhões.

Austeridade não é garantia de competência. Desapego não faz de ninguém bom político. Ambição não torna alguém desonesto. E o dinheiro, em si, não é ruim: é bom. Mas por que eles precisam de tanto?

É que eles não fazem o que fazem só pelo poder. É pelo dinheiro também. É mais vulgar do que a gente pensa.

Por isso, meu irmão, não se desgaste brigando em defesa deles e, sobretudo, não acredite neles. Em nenhum deles. Não é que sejam todos desonestos, não é tão simples. Mas as tentações que os cercam são tantas, que eles têm de estar eternamente sob vigilância. Vote neles, faça até campanha para eles, se quiser, mas desconfie. Desconfie sempre. Quando há muita oferta é muito fácil ceder.

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