sábado, 28 de fevereiro de 2015


28 de fevereiro de 2015 | N° 18087
NÍLSON SOUZA

E AÍ, XARÁ?

Temos em comum o nome, a evidente timidez e a paixão inquebrantável pelo jornalismo – além do hábito, ironizado por alguns colegas, de levar lanche de casa para comer no bar da Redação. Nunca me ocorreu comentar com ele que somos filhos da nuvem. Não dessa virtual, que agora reúne todas as informações do mundo digital e pode ser acessada de qualquer parte do mundo real, desde que se tenha um teclado para abrir caminho e um monitor para visualizá-la.

Nossa nuvem é outra, a que inspirou nossos nomes. Segundo sua origem inglesa, Nílson (com ou sem acento) identifica um filho de Neil, derivação do anglo-saxão niadh, que significa campeão ou nuvem. Conhecendo-me e conhecendo-o, certamente ficamos com a segunda possibilidade, para fugir da arrogância da primeira.

Mas, na verdade, ele é um campeão de ética, de talento e de prêmios jornalísticos. Falo de Nilson Mariano, de quem tenho orgulho de ser tocaio e colega de ofício. Sempre que o encontro nos corredores da Redação, nas reuniões de trabalho ou mesmo na hora do lanche, lanço-lhe a saudação de praxe:

– E aí, xará?

Ele sempre responde com a gentileza que lhe é característica, mas raramente estende a conversa. É um homem reservado, discreto. Nesta semana, porém, para minha surpresa, alongou-se na resposta. Parou para me contar que está deixando o jornal e uma vida inteira de reportagens para encarar o que costumamos chamar, também ironicamente, de novos desafios. Meu mundo caiu. Meu simpático xará é um dos profissionais mais completos e competentes que conheci, do que são testemunhas os leitores de suas apreciadas reportagens e de seus livros.

Falamos, então, demoradamente sobre o pretérito perfeito de nossas existências, sobre as mudanças vertiginosas da nossa atividade e sobre os novos rumos da comunicação. Ele me disse, num misto de nostalgia antecipada e crença na sua escolha profissional:

– Nada tem sido tão prazeroso e gratificante na minha vida do que viajar para o interior do Interior, encontrar pessoas que nunca sonharam ver um jornalista, ouvi-las com atenção e depois relatar fielmente suas histórias.

Eis aí uma síntese perfeita da melhor profissão do mundo, conceito que nós, jornalistas, fazemos questão de creditar a García Márquez para não parecermos demasiado pretensiosos. Contar histórias – com paixão, responsabilidade e honestidade intelectual – é a nossa maneira de perseguir essa nuvem intangível chamada Verdade. Por isso conto aqui a história desta suave despedida.


Boa sorte, xará!

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