13
de fevereiro de 2015 | N° 18072
MARCOS
PIANGERS
Carnaval em preto e branco
Tem
aquele Carnaval em preto e branco. Uma foto amarelada sem filtro do Instagram,
onde estão a nossa mãe e o nosso pai, ela fantasiada de Mulher Maravilha e ele
de marinheiro. Aparentemente, eles nunca foram tão felizes. Eles estão olhando
pra foto, a mãe sorrindo de um jeito que nunca vi ela sorrir ao vivo, o pai com
um olhar sacana e displicente, parece que quer que tirem a foto logo pra ele
poder voltar pra gandaia. Esse Carnaval acho que não existe mais.
Porque
depois vieram os filhos e as fotos das crianças também estão sem muito
contraste, algumas amassadas, atrás delas está escrito “agosto 79” com caneta azul. A mãe parece que está
sempre cansada nessas fotos, sempre carregando uma criança no colo, sempre
trabalhando com os olhos. A testa do pai foi aumentando com a queda dos
cabelos, ele passou a se vestir melhor. Não tem mais foto do pai e da mãe
juntos. É sempre ele com os filhos ou ela com os filhos. No máximo, os dois com
um monte de gente ao redor. Nunca mais só os dois juntos.
Naquele
Carnaval em preto e branco, tem um outro casal no fundo, sentado na mesa do salão.
Ela tem o cabelo crespo e arrumado pra cima, cheio de prendedores brilhantes,
ele está fumando e olhando pra câmera. Quer dizer, ele está olhando pra câmera
ou está olhando pra mãe. Talvez esteja olhando pra mãe. A mulher do cabelo
crespo está sorrindo. Era uma época, tenho a impressão, em que as mulheres
adoravam Carnaval. Estão todas rindo na foto. Hoje em dia, ninguém mais gosta
de Carnaval.
Quero
dizer, as pessoas gostam de ir pra praia, de descansar. Meia dúzia gosta de
desfilar, outra meia dúzia faz bloquinho. Com exceção do Rio, que continua no
mesmo clima daquela foto do pai e da mãe. No Rio, as mulheres estão sorrindo,
os homens estão fumando e olhando pra câmera com olhar sacana. E em Salvador, é
claro. Mas no resto do Brasil as mulheres estão descansando. Os homens estão
preparando uma caipira. De noite, tem desfile na Globo. Quarta, tem que
trabalhar.
Aquela
foto é de uma época que eu não peguei. Ou peguei e não notei, sei lá. Hoje em
dia, a gente tira tanta foto, que nem olha mais pra elas. Mas aquela foto do
pai e da mãe parece que congelou uma época feliz. Não só pra eles, pra todo
mundo ali ao redor. Tomara que tenham aproveitado.
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