sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015


27 de fevereiro de 2015 | N° 18086
EDUCAÇÃO ADAPTAÇÃO À NOVA ESCOLA

QUANDO CHEGA A HORA DE MUDAR

VOLTA ÀS AULAS é um desafio maior para crianças e adolescentes que mudam de colégio. Pais e escola têm de dar atenção especial ao aluno para que a troca ocorra com mais tranquilidade
Prestes a completar a primeira semana de aula em uma nova escola, Mariana Coutinho Raggio, 11 anos, desabafa:

– Está sendo um pouco difícil me acostumar com um colégio gigante, mas está legal. Sentei sozinha nos primeiros dias, mas uma colega perguntou se eu queria sentar com ela. Agora já somos amigas.

No caminho do Colégio Marista Rosário para o primeiro dia de aula, ela confessou ao pai, o professor Juan Pablo Raggio, 49 anos, que sentia um misto de nervosismo e expectativa. Acostumada a estudar em uma instituição pequena, Mariana demorou a aceitar a ideia. Além da nova escola, ela agora ingressa no 6º ano do Ensino Fundamental, o primeiro em que as disciplinas são separadas, e os professores, diferentes para cada conteúdo.

Fora a ansiedade e a expectativa comuns à retomada das aulas, crianças e adolescentes que trocam de colégio têm um desafio a mais no início do ano letivo. Novos horários, colegas e regras exigem uma adaptação que nem sempre é fácil. Para que a mudança ocorra com tranquilidade, é essencial que os pais e a escola deem atenção especial ao aluno e o acompanhem de perto.

– A primeira situação é expor ao filho quais são os motivos para a troca de escola, pois é ele quem vivenciará essa mudança – explica a professora do curso de graduação em Pedagogia da Unisinos, Rejane Klein.

A troca impacta porque o ambiente escolar é o primeiro, depois do familiar, onde normalmente se estabelecem laços afetivos e relacionamentos pessoais. Conforme a psicanalista Ana Cristina Pandolfo, da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), ajudar o estudante a compreender as sensações decorrentes das novas experiências, como perdas, tristezas e ganhos, pode facilitar a criação do vínculo com a nova escola.

– Vivemos em uma época em que não se lida bem com expressões de tristeza. Por isso, tendemos a atropelar processos naturais. A ansiedade não deve ser controlada, mas considerada como expressão de vivências excessivas para a criança.

TRISTEZA NO PERÍODO QUE ANTECEDEU TROCA

Durante os primeiros meses de adaptação, a confiança dos familiares na nova escola deve ficar evidente, alerta Gilca Kortmann, vice- presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Se, mesmo assim, a criança quiser voltar para o colégio antigo, é preciso ficar claro que o poder de decisão, neste caso, é dos pais. No caso de Mariana, os meses que antecederam a mudança foram de tristeza para a menina. E de pulso firme para os pais.

– Ela ficou bem chateada porque ia perder os colegas e por não saber muito bem o que estava por vir. Na última semana de aulas do ano passado, entrou em um período mais entristecido, mais reflexiva. Tivemos de nos manter firmes e, com muitas conversas, conseguimos mostrar que esta era a melhor decisão – lembra a mãe, a enfermeira Kátia Coutinho, 47 anos.

Para a menina entender as mudanças, as conversas começaram em outubro. Hoje, com uma grade escolar já organizada, Mariana se mostra motivada e faz questão de separar cadernos e livros – o material escolar foi todo personalizado por mãe e filha – na noite anterior a cada novo dia de aula.

– Agora já estou me acostumando, já parei de ficar nervosa. Acho que vai ser legal, e vou até falar para as minhas amigas que a mudança não é tão sofrida assim – diz a menina.


jaqueline.sordi@zerohora.com.br

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