segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


16 de fevereiro de 2015 | N° 18075
ARTIGOS -  CLÁUDIO BRITO*

MANGUEIRA MULHER

Neste Carnaval, o que mais me impactou foi descobrir a verdadeira biografia de Dona Neuma, a incrível mulher que a Estação Primeira de Mangueira reverencia há tantos anos e uma das figuras centrais de seu enredo em 2015. Sempre soube de sua liderança na comunidade do morro onde os telhados de zinco e as vielas de puro chão inspiram poetas a descrições incríveis daquele cenário em verde e rosa. O que eu desconhecia era sua relevância como educadora.

Dona Neuma Gonçalves era filha de um fundador da escola de samba mais popular do planeta. Sua verdadeira dimensão está contada agora, quando é homenageada a mulher brasileira. Mangueira é mulher, pois é Estação, é Primeira e é Mangueira. Feminina de verdade, pois suas mulheres têm a candura das enamoradas e a garra das grandes guerreiras.

O carnavalesco Cid Carvalho justifica o enredo ao descrever Dona Neuma: “Quando necessário, Dona Neuma fazia-se Maria Quitéria nas pelejas para defender o samba, mas se alguém precisasse de auxílio, ela se transformava em Ana Néri para socorrer”.

Mulher inteligente, que percebeu a necessidade de alfabetizar as crianças do Buraco Quente e arredores. Ensinou-lhes a escrever as palavras que diziam quando estavam de brincadeira ou mesmo na briga uns com os outros. Palavrões eram escritos por ela, em giz, no quadro- negro de uma sala de aula improvisada. Era mais fácil assim, pois a garotada ria muito com aquele jeito brincalhão de ensinar. E todos aprendiam. Dona Neuma chamou a atenção de Paulo Freire, que fez questão de conhecê-la. Ela criou 18 filhos adotivos e três filhas de sangue. Ensinou a todos com seu método e multiplicou o saber entre os muitos amigos da filharada.


Fez muito bem a Mangueira. A partir de Dona Neuma, outras mulheres incomparáveis foram lembradas e homenageadas com justiça. A família mangueirense tem muitas delas, como Alcione, Lecy Brandão, Rosemary, Dona Zica, Tia Fé, Tia Miúda, Vovó Lucíola, Neide e Mocinha, entre tantas que inspiraram a verde e rosa. A comunidade abraçou o tema com muito amor, pois todo o povo do morro define assim sua escola de samba: “Mangueira é garra, Mangueira é paixão, Mangueira é mulher!”.

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